domingo, 5 de janeiro de 2020

Um pouco da história de meus antepassados

Meus antepassados começaram a chegar na América do Sul logo após a descoberta feita por portugueses e espanhóis. Um dos primeiros foi João Ramalho Maldonado (avô 13ª geração), cuja chegada ao Brasil é ainda um mistério, como descreve o site Wikipedia.

João Ramalho
“São várias as hipóteses de como João Ramalho teria chegado no sudeste brasileiro.Uma delas é como um náufrago, possivelmente até da armada de Pedro Álvares Cabral; outra hipótese é que Ramalho teria sido exilado por algum crime cometido em Vouzela; e a terceira hipótese é que ele teria sido voluntário para colonizar o Brasil após sua descoberta, para conquistar as terras no local ainda desconhecido. Também não se sabe quando ele chegou, podendo ser em algum período entre 1508 e 1511 ou em 1515.Teria sido o primeiro português a habitar o Brasil meridional.”

Desde a sua chegada no Brasil até o ano de 1532, quando chegou a esquadra de Martim Afonso de Sousa, não existem registros a seu respeito. Soube-se posteriormente que ele vivia com os índios tupiniquins e que ficou amigo do cacique Tibiriçá, meu tetradecavô (avô 14ª geração) - na língua tupi seu nome significa vigilante da terra. 


Tibiriçá ou Tebiriçá era o principal líder tupiniquim do planalto de Piratininga e chefiava a aldeia Inhapuanbuçú (hoje Largo São Bento, em São Paulo, SP). Ele teve papel importante na colonização portuguesa do Brasil e na fundação da atual cidade de São Paulo. Foi batizado pelos jesuítas e escolheu o nome de Martim Afonso Tibiriçá, em homenagem a seu amigo Martim Afonso de Sousa. Casou-se com a índia Potira e tiveram os seguintes filhos: Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí, Bartira (avó 13ª geração) e Terebe (Maria Grã).

Segundo relatos do padre José de Anchieta, o cacique Tibiriçá faleceu em 25 de dezembro de 1562, devido a uma peste que assolou a aldeia. Ao morrer, foi sepultado no interior do Colégio dos Jesuítas e recebeu o hábito de Cavaleiro da Ordem de Cristo, privilégio de poucos, o que significa que os padres e a própria Coroa Portuguesa, à sua maneira, souberam retribuir seus préstimos. Hoje seus restos mortais encontram-se na cripta da Catedral da Sé, em São Paulo, SP. Igreja esta que foi reedificada em 1610, sob o encargo de outro antepassado, meu avô de 11ª geração Cornélio de Arzão. 
João Ramalho convivia com Mbicy ou Bartira (flor de árvore, em tupi), cujo nome cristão, após ser batizada pelos jesuitas, era Isabel Dias. Depois de 40 anos de convivência tiveram sua união abençoada pelo padre Manuel da Nóbrega. Desta união iniciou-se a miscigenação em terras brasileiras, gerando os primeiros mamelucos (Mameluco é o indivíduo que possui uma ascendência de branco e de índio. Também chamado de caboclo, mestiço. que foram responsáveis pela penetração dos portugueses no interior do Brasil). O casal teve os seguintes filhos, conforme descrito no testamento de João Ramalho: André, Joanna, Victorio, Antônio, Marcos, João, Antônio de Macedo e Antônia Quaresma (provavelmente os filhos também tinham nomes indígenas). Joanna Ramalho é a minha avó em 12ª geração.

Outra filha ou neta de Tibiriçá (existem contradições), cujo nome cristão é Beatriz, é também nossa antepassada, mãe de Susana Dias (avó 12ª geração). Neste estudo a colocamos como filha de Tibiriçá visto que seu nome não consta no testamento de João Ramalho.
Em 1532, Martim Afonso de Sousa chega na vila de São Vicente e é recebido por João Ramalho e Antônio Rodrigues (Antônio Rodrigues casou com a filha de Piquerobi, cacique de São Miguel de Ururaí, irmão de Tibiriçá. Em minha árvore genealógica, ele aparece como avô de Mécia Rodrigues, minha tridecavó). João Ramalho guiou Martin Afonso na sua incursão pelo interior do Brasil e este pode ver a importância de João na comunidade indígena.
Era 1535 quando Domingo Martínez de Irala, meu tridecavô (avô 13ª geração), parte da Espanha, na expedição de Pedro Mendonza, para desbravar a América do Sul. Ele participou, em 1536, da primeira fundação de Buenos Aires e lutou contra os indígenas da região por ordem de Mendonza. Foi o sucessor de Mendonza como governador da Nueva Andalucia del Rio de la Plata, com sede em Assunção, até que Cabeza de Vaca assumiu o cargo em 1542.
Em 1534, a Coroa Portuguesa começa a dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. Na região sul, Dom João III doou a Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso, as terras da Capitania de Sant´Ana que abrangia a região litorânea da atual Paranaguá até Laguna. Assim, aos poucos, a região litorânea de Santa Catarina também começa a ser povoada pelos europeus, promovendo no sul do país o processo de miscigenação entre brancos, índios e negros.



Em 06 de fevereiro de 1543, Domingo funda a cidade de Puerto de los Reyes (atual Corumbá, MS). E em 1554, ele funda na foz do Rio Ivaí com o Rio Paraná, a Vila de Ontiveros, primeiro povoamento paranaense.

Domingo Irala, assim como João Ramalho, conviveu com várias concubinas indígenas e permitiu que outros espanhóis também o fizessem. Esta permissividade tinha objetivos políticos e foi uma forma que Domingo encontrou de estabelecer alianças entre as diversas tribos indígenas e os espanhóis. 

Em 03 de outubro de 1556, Domingo falece na cidade de Assunção, Paraguai, deixando o seguinte testamento:

"Digo y declaro y confieso que yo tengo y Dios me ha dado en esta provincia ciertas hijas y hijos que son: Diego Martínez de Irala y Antonio de Irala y doña Ginebra Martínez de Irala, mis hijos, y de María mi criada, hija de Pedro de Mendoza, indio principal que fue desta tierra; y doña Marina de Irala, hija de Juana mi criada; y doña Isabel de Irala, hija de Águeda, mi criada; y doña Úrsula de Irala, hija de Leonor, mi criada; y Martín Pérez de Irala, hijo de Escolástica, mi criada; e Ana de Irala, hija de Marina, mi criada; y María, hija de Beatriz, criada de Diego de Villalpando, y por ser como yo los tengo y declaro por mis hijos y hijas y portales he casado a ley y a bendición, según lo manda la Santa Madre Iglesia [...] "

De sua descendência vem minha avó de 12ª geração Úrsula de Irala, filha da índia Leonor. O marido de Úrsula, o espanhol Alonso Riquelme de Guzman Ponce de Leon (avô 12ª geração) veio para o Brasil em 02 de novembro de 1540 na expedição de seu tio Alvar Nunez Cabeza de Vaca, desembarcando na Ilha de Santa Catarina e chegando em Assunção após cinco meses.
Seu tio era contrário ao governo de Domingo de Irala e como parte de um acordo politico, no qual Irala, após prender e condenar à morte Alonso e Francisco Ortiz de Vergara, os obriga a escolher: a forca ou o casamento com suas filhas: Ursula e Marina, respectivamente. Assim, ligados pelo sangue, sendo genros de Irala, a paz acabou sendo selada entre as facções que lutavam pelo poder paraguaio, Alonso casou-se com Úrsula em 1552, e é considerado o conquistador do território do Guayrá (parte do atual Paraná), do qual foi governador por duas vezes. 
No ano de 1556, mês de agosto, partem de San Lucar de Barrameda, na Espanha, na armada de Martin de Orué, o casal Martin Fernandez de Contreras e Anna de Hermosilla com seus quatro filhos, entre eles Barnabé de Contreras (avô 11ª geração) que viria a se casar com Violante de Guzman Ponce de Leon (filha do espanhol Alonso com a guarani Úrsula). Barnabé e Violante são avós de minha 9ª avó, Anna Rodrigues Torales.



Barnabé participou, em 1594, da expedição do General Ruy Diaz de Guzman (avô 13ª geração) que explorou a margem direita do Rio Paraná desde as cataratas de Sete Quedas até o Pantanal e as nascentes do Rio Paraguai. Esta expedição, acompanhada por vários caciques e soldados, tomou posse das terras exploradas em nome do Reino da Espanha.

Já em terras brasileiras, por volta de 1550, João Ramalho fundou a povoação de Santo André da Borda do Campo de Piratininga (atual região do ABC Paulista). Após 15 anos, decidiu abandonar o Planalto Paulista, e foi morar no vale do Paraíba, onde se hospedou na casa de um amigo e ali viveu provavelmente até a sua morte, por volta de 1582. 

João Ramalho ficou conhecido como o Pai dos Bandeirantes. Eram nomeados bandeirantes aqueles que participavam de expedições chamadas Bandeiras, organizadas por particulares, cujo objetivo era a busca por mão de obra escrava indígena, localização e destruição de quilombos, busca por metais preciosos e ampliação e posse de terras.

NUNES PEREIRA, no seu livro “Genealogia Tropeira Paraná. Volume I ” descreve o seguinte: 
"O bandeirantismo foi um fenômeno controlado por poucos grupos familiares. Umas dez redes de parentesco todas ligadas entre si e com forte presença tupiniquim. O que significou o bandeirantismo? A posse das terras além do Tratado de Tordesilhas. A formação do território brasileiro. O seu empreendimento reuniu as energias de uma nova sociedade criada na fusão entre os tupiniquins e os portugueses. Uma bandeira possuía um contingente indígena muito maior que o número de "brancos". Os tupis eram descritos como mais ferozes que os portugueses. Grupos de combate extremamente operacionais e bem adaptados aos sertões. Violência e crueldade resultavam como produto da busca e apreensão de mão-de-obra para a economia paulista dos séculos XVI e XVII. Primeiro defenderam São Paulo contra os tupinambás (tamoios) e franceses do RJ e depois passaram a ofensiva. Quem quiser verificar o impacto destrutivo das bandeiras pode ler o depoimento do Padre Montoya na Conquista Espiritual (Editada pel!o Martins Livreiro). Tal como 388 anos de escravidão negra, a verdade deve ser pesquisada. Não podemos mudar o passado e somos o que os nossos antepassados fizeram. Como é difícil essa dialética entre grandeza e miséria, glórias e sofrimentos eternos.”



Logo após a fundação de São Paulo, em 1554, os jesuítas, coordenados pelo Pe. Manuel da Nóbrega, foram distribuídos em três locais: São Vicente, São Paulo e Jeribatiba (atual Santo Amaro). José de Anchieta ao visitar a aldeia de Jeribatiba percebeu que ali tinha um grande número de índios catequizados e de colonos instalados, podendo ser criado um novo povoado. Para tanto, José de Anchieta ergueu uma capela onde meus avós de 9ª geração João Paes e sua mulher Susana Rodrigues doaram a imagem de Santo Amaro (alguns historiadores dizem que daí surgiu o nome da cidade de Santo Amaro).

Uma outra Susana, Susana Dias (avó 11ª geração), neta de Tibiriçá, é considerada, junto com seu filho, o capitão André Fernandes, fundadores da cidade de Santana de Parnaíba, SP. Segundo historiadores, Susana fundou o município, em 1580, na fazenda de sua propriedade à beira do rio Anhembi, atual rio Tietê, próximo à cachoeira denominada pelos indígenas de "Parnaíba" (lugar de muitas ilhas). Ela ergueu uma capela dedicada à Sant'Ana, de quem era devota e o povoado prosperou devido a sua posição estratégica, tornando-se ponto de partida dos bandeirantes. Estima-se que André Fernandes, co-fundador da cidade, tivesse apenas dois anos nessa ocasião, mas o município foi instalado em 1625 sob sua influência, ao ser elevado à condição de vila e desmembrado de São Paulo.

Um outro filho de Susana, Baltazar Fernandes (avô 10ª geração), foi um bandeirante e fundou a cidade de Sorocaba em 1654. Outro filho também bandeirante, meu avô de 11ª geração Domingos Fernandes, fundou a cidade de Itu em 1610. E foi na cidade de Itú, Província de São Paulo, que, em 1659, Antonio de Oliveira Falcão Filho (avó 9ª geração) se casou, em segunda núpcias, com Anna Rodrigues Torales, de origem paraguaia.

Segundo PROENÇA,
“A partir da instalação do povoado de Sorocaba por Baltazar Fernandes em 1654 abriram-se os caminhos em todas as direções e muitas povoações surgiram; ao sul até os redutos espanhóis de Guairá; ao noroeste Goiás e Mato Grosso e ao norte até as Minas Geraes. A descoberta de minerais e pedras preciosas estruturou o "Século de Ouro" nos anos de 1700 e promoveu o afluxo populacional de habitantes da terra para a região das Gerais promovendo uma gigantesca demanda de bens e serviços para abastecer essa atividade. Nesse século teve início o que se pode chamar de Ciclo do Tropeirismo que promoveu o fluxo de animais do extremo sul para as regiões centrais do Brasil.”
De acordo com TAQUES, em 1610 os irmãos Vicente e Antonio Bicudo (avô 11ª geração) solicitaram à Câmara de S. Paulo 300 braças de terra em quadra, partindo pelo rio Carapicuiba. “Neste requerimento declararam que havia muitos anos que habitavam esta terra, onde sempre ajudaram com suas pessoas e armas ao bem público, achando-se nas guerras que contra os portugueses moviam os bárbaros gentios que infestavam a terra; e que eram casados e tinham filhos (Arq. da Câmara de S. Paulo, caderno de registros, Maio de 1607) 

Em 09 de abril de 1622, durante o processo de canonização do Padre José de Anchieta, Ana Ribeiro (11ª geração de avó) deu o seguinte depoimento: 

“Natural de São Vicente, com mais de 60 anos de idade, filha de Estêvão Ribeiro e de Madalena Fernandes. Durante algum tempo com ele se confessou em São Vicente. Relatou um milagre acontecido com seu filho, Jerônimo, que então contava 2 anos de idade. Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao Padre Anchieta, que passava pela sua porta. “Deixe-o ir para o céu”, disse Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre: nem um sinal ! Narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando Anchieta à Vila de São Vicente pede a Antônio que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste”.
No Brasil a primeira notícia concreta da atuação da Inquisição se deu em 1546, dez anos após a sua instalação em Portugal, mas foi em 01 de abril de 1626, que o Santo Ofício apareceu em São Paulo e, por ordem da Inquisição, sequestrou os bens de meu avô de 11ª geração Cornélio de Arzão, conforme descrito no relatório seguinte mandado fazer pela Inquisição (vol.12, fls 71 a 127) de acordo com o transcrito no site do Projetocompartilhar.org:

“Anno do Nascimento de Jesus Cristo de mil seissentos e vinte e oito annos ao primeiro dia do mez de abril do dito anno no termo da villa de São Paulo capitania de São Vicente partes do Brazil no termo desta vila donde chamam Piratiabae roça e fazenda de Cornélio de Arzão onde veio o Juiz ordinário da villa Francisco de Paiva trazendo comsigo a Liguel Ribeiro meirinho da Santa Inquisição por ordem e mandado do Senhor Inquisidor Luiz Pires da Veiga trazendo mais comsigo a mim Tabelião ao diante nomeado, e ao tabelião Simão Borges de Cerqueira , e sendo aqui nesta fazenda a meia noite pouco mais ou menos chegando as portas da dita casa do dito Cornélio de Arzão logo o dito meirinho Miguel Ribeiro bateu a porta da dita casa dizendo que da parte da Santa Inquisição lhe abrissem a porta a qual foi aberta pela mulher do dito Cornélio de Arzão Elvira Rodrigues e juntamente com um irmão seu por nome Pedro Rodrigues Tenório e sendo aberta a porta da dita casa logo pelo dito meirinho Miguel Ribeiro e o dito Francisco de Paiva lhe foi mandado por parte da Santa Inquisição entregasse as chaves da dita casa e de todas as caixas que tivesse e declarasse toda a fazenda que nella havia a qual disse e declarou que na dita casa em que estava e nós todos entramos não havia mais que uma fraqueira em que estavam sete frascos juntamente duas tamboladeiras de prata e três digo uma maior e outra mais pequena e três colheres de prata, e que na dita casa não havia mais gente que gente de serviço, negros da terra e que em outra casa que junta estava estavam duas caixas em que tinha algumas coisas e que fossem ver, e logo se foi ver deixando na dita casa que primeiro vimos guardas e bom recado como o caso requeria e do que dentro estava se fez inventário seguinte perante o dito juiz e meirinho e a dita Elvira Rodrigues por mão saber e assignou por ella Belchior de Borba forasteiro que ahi se achou eu Fernão Rodrigues Cordova tabelião escrevi.
(Seguem as avaliações da frasqueira, tachos, todo o tipo de ferramentas, pratos de estanho, gado, porcos, um pano cozido com 9920 em dinheiro, relicário, roupas, tecidos, 27 grãos de ouro e quatro pérolas, louça, um par de óculos, facas e facões, uma negra da Guiné e seu filho, armas, plantações de algodão, mandioca, aves, gentio da terra)
E logo no ditto mês e anno acima e atraz declarado sendo feito esse inventário ....foi dado juramento na Cruz da vara em nome dos Santos Evangelhos a mulher do preso Cornélio de Arzão a requerimento do meirinho do Santo Oficio.......
Aos dois dias do mez de Abril ...o dito Juiz Francisco de Paiva e o meirinho do Santo Oficio Miguel Ribeiro trazendo a mim tabelião nos partimos do sitio de Cornélio de Arzão atraz declarado e dahi fomos a uma casa que está na roça do dito Cornélio de Arzão para sabermos o que nella havia e achamos o abaixo declarado.
(milho, moinho, casas, ferramentas, pouco mobiliário)
(Segue avaliações das casas e seus pertences na vila e o rol dos conhecimentos, i. é. devedores)


Escripturas

  • Carta de data de sesmaria de meia légua nos matos do Bihi
  • Casas defronte à casa do Vigário
  • Umas terras em Bohi
  • Sessenta e seis braças de terras em Birapoera
  • Chãos na banda de Santo Antonio
  • Cinco braças de chãos em Santos
  • Terras em Bohi compradas a Matias de Oliveira
  • Uma légua no Covatão merim correndo para Piaçagoera
  • Um conhecimento pelo qual Miguel Gonçalves Correia que era ido ao Peru, devia 16$000 ao dito preso.
  • Penhoras feitas aos oficiais da Câmara do ano de 1610, referentes ao que a Câmara devia ao preso Cornélio de Arzão pelo feitio da Matriz.
          Pagaram

  • Mathias de Oliveira
  • Bento de Oliveira por seu irmão Gaspar de Oliveira por conta do inventário de Francisco da Gama
  • Catarina Dias por seu marido defunto Garcia Rodrigues
  • Manuel da Costa e Miguel Ribeiro como herdeiros de Belchior da Costa
  • Bernardo de Quadros, por ter sido oficial da Câmara em 1610

Cornélio já era conhecido do Santo Ofício pois havia sido denunciado, em 1615, pelo cunhado de sua mulher, Clemente Álvares; porém a denúncia não foi adiante pois a Inquisição só mandava prender se houvesse duas denúncias. Contudo, na terceira visita do “Visitador” da Santa Inquisição ao Brasil, Cornélio foi preso sob a acusa de blasfemo e sacrílego. Ele confessou que as denúncias eram verdadeiras e que era calvinista. Foi encaminhado para o mosteiro de São Bento, em Pernambuco, para ser instruído na religião católica e não foi processado em Lisboa. No entanto, existem controvérsias visto que alguns historiadores informam que ele foi levado para prisão em Setúbal, Portugal, no decorrer de 1620. E anos mais tarde, em praça pública, foram arrematados os seus bens, exceto o ouro, prata, pérolas e moeda que foram direto para o bolso do meirinho, o oficial de justiça. O meirinho também recebeu o dinheiro dos credores de Cornélio. O leilão teve como juiz de execução Custódio de Paiva e o escrivão Simão Borges Cerqueira.
Cornélio ficou preso por 6 anos e, sem provas consistentes, foi liberado e, no seu retorno, conseguiu uma carta de sesmaria nas cercanias de São Paulo, onde hoje é a cidade de Cubatão. Porém mais tarde, a Igreja tratou de confiscá-la para a vila de Santos, SP. Apesar de tudo, ele se refez financeiramente e na sua morte, em 30 de outubro de 1638, deixou uma pequena fortuna a sua família (562$740 réis).



Segundo dados do blog Retratos de Família BH, de Antônio Carlos de Oliveira Corrêa: 
“Passada a perseguição, e já no último quartel de vida, viu-se Cornélio de Arzão exausto de recursos para a subsistência, pelo que pediu e obteve, a 20 de dezembro de 1627, de Álvaro Luis do Vale, capitão-mor loco-tenente do donatário da Capitania, a sesmaria que consta do requerimento que em seguida transcrevemos.
Ei-lo: “Sr. Capitão e Ouvidor – Diz Cornélio de Arzão, morador na villa de S. Paulo, que há vinte anos pouco mais ou pouco menos, veio a esta Capitania de S. Vicente em companhia de D. Francisco de Sousa, que Deus tem, governador geral que foi das minas de ourto e prata e mais metaes descobertos e por descobrir, por mandado de Sua Magestade para vir edificar os engenhos das ditas minas da dita villa de S. Paulo, com duzentos cruzados de salário por cada anno, assistindo sempre ele suplicante junto à pessoa do dito governador, acudindo a seus mandados, e se casou na dita villa de S. Paulo, com uma filha legítima do capitão Martim Fernandes Tenório, pessoa nobre, conquistador povoador e da governança da terra, da qual tem filhos e filhas, pelo que pede a V.M. uma légua de terras em quadra, que foram de Antônio Pinto, Miguel Ayres Maldonado, e dos Erasmos Esquetes de que já está de posse e tem feito benfeitorias e que começam das cabeceiras das ditas terras do caminho de Piassagoera até o cume da serra e d’ahi correrão até o Cubatão-mirim, com suas entradas e sahidas aguas e logradouros. – Despacho. – Dou ao suplicante as terras que pede. – Santos, 20 de dezembro de 1627. – alvaro Luiz do Valle”.

CORRÊA também descreve um pouco da história deste meu ramo familiar em seu outro blog (historiaestoriadoresdoindaia.blogspot.com):
“Cornélio de Arzão havia se casado com Elvira Rodrigues, filha do sertanista e bandeirista, Martim Rodrigues Tenório de Aguilar, castelhano de Sevilha e, ele também, cristão-novo, de antigo credo judaico. Martim Rodrigues se casara com Suzana Rodrigues, neta de João Ramalho e Antônio Rodrigues, dois dos pioneiros povoadores da Capitania de São Vicente, e troncos das principais famílias do Sudeste brasileiro. Existem fortes indícios de que, tanto João Ramalho quanto Antônio Rodrigues, também seriam de origem judaica. Martim Rodrigues foi, além de comerciante estabelecido em São Paulo de Piratininga, um grande sertanista. Esteve em expedições pelo Sul. Em 1603 embrenhou-se pelo sertão além Mantiqueira, chegando a uma região, mais tarde conhecida como Campo Grande, nas cabeceiras do rio São Francisco. Antes de fazê-lo deixou seu testamento em São Paulo. Foi morto pelos índios nesta mesma região, provavelmente em 1608, conforme alguns relatos históricos.

Cornélio de Arzão deixou oito filhos que se mudaram para um arraial não distante de São Paulo, Santana do Parnaíba (aproximadamente 50 quilômetros), que hoje faz parte da Grande São Paulo, às margens do rio Tietê. Parnaíba era uma das portas para o sertão do oeste e noroeste, quando se utilizava a via fluvial do Tietê, que facilitava em muito as expedições”. 

Enquanto Cornélio tinha problemas com a Inquisição, ao sul da América os bandeirantes avançavam no sertão.

Os Bandeirantes, da qual fizeram parte alguns dos meus antepassados, foram fundamentais para a conquista do interior além do Tratado de Tordesilhas, inserindo o Mato Grosso, Goiás, oste do Paraná e de Santa Catarina no mapa do Brasil. Infelizmente, eles também participaram de uma das maiores chacinas contra os indígenas. O evento ocorreu entre 1628 e 1633 nas reduções jesuíticas na região do Guairá.

Entre os anos de 1610 e 1628 os espanhóis fundaram 13 reduções jesuíticas na região do Guairá, na época pertencente a Coroa espanhola, hoje região do oeste do Paraná.



A invasão das reduções do Guairá foi polêmica, visto que os índios ali localizados eram pacíficos, catequizados e o território era espanhol. No entanto, neste período, meus antepassados portugueses/paulistas tinham como fonte de riqueza a captura e venda de indígenas e as reduções eram um bom negócio, visto que em um único local poderiam apreender milhares de nativos, já adestrados para a agricultura e trabalhos manuais. 

Em 1601 e 1602 partiram duas bandeiras patrocinadas por D. Francisco. A segunda bandeira, a de Nicolau Barreto, contava com a participação dos meus avós de 11ª geração Baltazar Gonçalves e Aleixo Leme, bem como meus avós de 12ª geração Martim Tenório de Aguillar e Afonso Sardinha. Esta bandeira desceu o rio Tietê e percorreu os sertões do Paraná, Paraguai e Bolívia, em busca de metais preciosos e de nativos. Durou cerca de dois anos e capturaram na região do Guairá cerca de 3.000 indígenas.

A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. 



Em 1628, os bandeirantes Antonio Raposo Tavares e meu avô de 11ª geração Manuel Preto já atuavam capturando indígenas nas imediações do Rio Tibagi (localizado no Paraná, onde hoje existe o município de Tibagi, colegado com o rio Paranapanema) e naquele ano o cacique Tataturana fugiu para a redução de Santo Antonio e os missionários jesuítas espanhóis se recusaram a entregá-lo aos portugueses. Foi o motivo para que organizassem a maior bandeira de todas, com quase todos os paulistas em condições ativas. Foi uma expedição com 69 paulistas, 900 mamelucos e um exército de 3.000 índios.

Esta grande bandeira foi liderada por Antonio Raposo Tavares, bem como seu irmão Pascoal e seu sogro Manoel Pires (avô 10ª geração). Estava dividida em quatro seções sob o comando de Antonio Raposo Tavares, Pedro Vaz de Barros, Brás Leme e André Fernandes.

Segundo o Wikipédia, em pouco tempo, 11 das 13 reduções fundadas foram destruídas, restando, em 1929, somente duas maiores e mais antigas: Nossa senhora do Loreto e "San Ignácio Mini". Nesse contexto, os missionários receberam ordens oriundas de Assunção e de Madri para abandonarem as reduções na Província do Guaira. Na iminência de um ataque dos bandeirantes, foram construídas mais de 700 embarcações, principalmente jangadas, que foram dispostas às margens do Rio Paranapanema nas áreas que atualmente pertencem aos municípios de Jardim Olinda e Terra Rica, por meio das quais cerca de 12 mil nativos fugiram antes da chegada dos bandeirantes.

Desceram do Paranapanema até o Rio Paraná, passando inclusive pelas Sete Quedas, onde muitas jangadas foram destruídas. Também sofreram com emboscadas e doenças, de modo que apenas 4 mil nativos conseguiram chegar às reduções de "Natividad del Acaray" e de "Santa María del Iguazú", na Província de Alto Paraná, no Paraguai, onde hoje se situa Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, e Ciudad del Este, capital do Departamento de Alto Paraná.

Apesar da fuga de parte dos nativos, estima-se que os bandeirantes tenham capturado cerca de 100 mil nativos. Em março de 1632, chegaram às margens do Rio Yabebyry, no atual território argentino, onde recriaram as missões de Nossa Senhora do Loreto e de Santo Inácio. O padre Montoya criou novas reduções desde o Rio Paraná até o Rio Uruguai, no oeste do atual território do Estado do Rio Grande do Sul. Depois viajou para Madri, onde testemunhou em favor dos caiuás em um tribunal que contou com a presença de Filipe IV, Rei da Espanha.

Em maio de 1629, os paulistas voltam a Piratininga. E como descrito por Patrícia Barboza da Silva em seu artigo publicado no site brasilescola.uol.com.br, “a luta por essas novas terras nos leva a pensar: Raposo reclama a terra para coroa português, os Jesuítas representavam os espanhóis; e o nativo verdadeiro dono da terra simplesmente dominado, oprimido não conta.(…) Os dois lados visavam a dominação só se diferenciavam na forma, a portuguesa por meio da força, dominação e a Jesuítica, espiritual, do imaginário. Nesta briga entre Portugueses e Espanhóis, não existe lado certo, pois na verdade nem um nem o outro teriam o direito a esses territórios que muito antes de sua chegada já tinham donos”.

Após teram destruído as missões jesuíticas, os bandeirantes se concentraram nas duas cidades espanholas ali existentes: Ciudad Real del Guairá e Villaricca del Espiritu Santo. 

De acordo com Felipe Moraes, em artigo escrito em seu blog matenacuia.blogspot.com, 

"Os espanhóis de Ciudad Real del Guairá e Villa Rica sofriam pela pobreza desde 1628, havendo falta de alimentos e de índios para trabalharem na extração de erva mate. Após os bandeirantes paulistas terem destruído as missões jesuíticas atacaram em 1632 as duas cidades. A primeira delas foi Villa Rica, que foi sitiada por três meses e seus moradores fugiram para a região mais ocidental do Paraná e outros foram para São Paulo. Os espanhóis de Ciudad Real del Guairá abandonaram a cidade temendo os paulistas, deixando o Guairá sem nenhum núcleo de colonização europeia, sendo apenas uma região de trânsito para portugueses vindos de São Paulo."
Foi durante esta invasão, entre os anos de 1631/32, que meu avô de 10ª geração Gabriel Ponce de Léon y Contreras e outros parentes, partiram para São Paulo, chegando ali por volta de 1634. Partiram com Gabriel, sua sogra Maria de Zunega; seu irmão Barnabé de Contreras y Leon com sua mulher Beatriz de Espinoza e a filha Violante de Guzman; o irmão de sua sogra Bartholomeu de Zunega e sua primeira mulher Anna Rodrigues Cabral, filha de Antonio Rodrigues Cabral e Joanna de Escobar.

Gabriel era um ilustre cavaleiro da província do Paraguai e a demora deles na viagem até São Paulo (ao partirem de Villaricca, permaneceram algum tempo nos campos de Vacaria, RS, entre 1630 a 1634, gerando uma desconfiança de que essa transmigração fosse motivada por crime de lesa-majestade.
Em 1681 Phelippe de Campos, meu eneavô (avô 9ª geração), fez seu testamento, o qual foi cumprido em 25 de maio de 1682. 

Em nome da Santíssima (...)Em 1-12-1681, eu Phelippe de Campos estando doente em uma cama, faço este meu testamento.Encomenda a alma.Rogo a minha mulher Margarida Bicudo e a meu filho o padre Phelippe de Campos, e a meus genros Antonio Antunes e Francisco Cardoso queiram ser meus testamenteiros.meu corpo será sepultado na Igreja Matriz desta vila, na sepultura de meu filho Antonio de Campos, acompanhamentos e missas.
Declaro que sou natural da cidade de Lisboa, nascido no Bairro Alto na rua da Barroca, freguesia do Loretto, filho legitimo de Francisco de Banderbor e de sua mulher Antonia de Campos, ambos já defuntos.
Declaro que sou casado com Margarida Bicudo de quem tive o padre Phelippe de Campos, e o padre Estanislau de Campos da Companhia de Jesus, Manuel de Campos, Francisco de Campos, Jose de Campos, todos casados e a Bernardo e Nuno; e assim mais a Anna de Campos, Maria de Campos e Antonia de Campos todas casadas, e a Izabel e Maria; as quais estão inteirados de seus dotes e se por descuido faltou alguma coisa em lhe inteirar os dotes será o que disserem, excepto a João Falcão, a quem devo seis colheres e uma tamboladeira de prata que tenho já mandado fazer para lhe dar, e outrossim lhe falta para seu dote uma peça que lhe tenho consignado em um negro, por nome Sebastião que está em Curitiba em poder do padre meu filho.
Declaro que por morte de minha mãe Antonia de Campos me ficaram umas casas de dois sobrados na dita rua da Baroca de que mandei procuração a Manuel de Almeida Pernes morador na dita cidade de Lisboa, na rua Nova defronte de Nossa Senhora da Oliveira, o qual há muitos anos não me escreve nem tem dado correspondência nenhuma, do qual tenho muitas cartas em que me pedia procuração.
Declara bens e peças (Os escravos negros nesta época eram definidos como peças, eram tratados como objetos, peças a serem compradas, vendidas e herdadas).
Declaro que tenho um bastardo, por nome Feliciano, o qual deixo forro, e peço a meus herdeiros lhe dem ensino necessário, e outro por nome Gervásio, filho da mulata que outrossim deixo forro, e se lhe dará o ensino necessário, assistindo aos ditos em casa, como familiares.
Devo a Manuel Lobo Franco 12$300 rs de fazendas que deu a meu filho José de Campos (...).
Deixo o remanescente da terça para minha mulher, para ajuda de casas as duas filhas solteiras que tenho.
(...) roguei ao padre Bernardo de Quadros este meu testamento fizesse, e como testemunha assinasse, e me assinei nesta vila de Santa Ana da Parnaíba - Assino como testemunha - o Padre Bernardo de Quadros - Phelippe de Campos.

Aprovação:1-12-1681Cumpra-se Santa Ana da Parnaíba - 23-12-1681 - FrancoCumpra-se. Parnaíba 18-12-1681 - LemesCumpra-se Parnaíba 25-5 (sic)-1681 - Brito


Já do outro lado do oceano, no Arquipélago dos Açores, nascia em 03 de julho de 1672, na maior freguesia da Ilha Terceira, a freguesia de Agualva, meu avô de 8ª geração Pedro de Avila, filho de Simão Vaz de Ávila e Beatriz de Souza

Em dezembro de 1674 retornava para São Paulo, Brás Rodrigues de Arzão (avô 10ª geração), após o sucesso de sua expedição na Bahia. Tanto fez que em 20 de março de 1675, o Governo o incumbiu de pesquisar ouro nas capitanias do sul. A 15 de janeiro de 1679 foi mandado, com o posto de Capitão-mor, para tomar parte nas diligências da fundação da Colônia do Sacramento. Em 1680 retornou a São Paulo onde exerceu cargos importantes no Governo como administrador de minas e superintendente das aldeias reais de índios. 


Sua esposa, Maria Egipciaca Domingues (avó 10ª geração) teve seu testamento aberto em 24 de outubro de 1703, na vila de São Paulo, tendo como inventariante Manoel de Souza Pereira. O documento dizia o seguinte: 

Em nome da Santíssima Trindade Padre filho e Espírito Santo três pessoas em um Só Deus verdadeiro. Saibam quantos este publico instrumento virem como no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e um annos aos vinte e oito dias de setembro, eu Maria Egipciaca estando em meu perfeito juízo e entendimento que Nosso Senhor me deu doente de cama temendo-me a morte desejando por minha alma no caminho da salvação por não saber o que Nosso senhor de mim quer fazer e quando será servido levar me para si faço este meu testamento da forma seguinte:
Primeiramente encomendo a minha alma......
Rogo e peço por serviço de Deis e por me fazeram mercê ao reverendo Padre João de Pontes e a Manoel Pinto queiram aceitar serem meus testamenteiros//
Meu corpo será sepultado em capella dos terceiros de São Francisco se puder ser na mesma sepultura de minha filha mulher que foi de Jerônimo Machado...
(Pedidos para o funeral e encomendação da alma)
Declaro que fui casada com Braz Rodrigues de Arzão de quem tive trez filhas a saber Maria Rodrigues que a primeira vez foi casada com Antonio Gomes e da segunda vez com Gaspar de Brito, a outra Maria Egipciaca de Arzão já defunta foi casada com Jerônimo Machado e Silva e a terceira Marianna de Arzão casada com Manoel de Souza as quais foram dotadas e inteiradas de seus dotes e declaro que são meus legítimos e universais herdeiros.
Declaro que Salvador Francisco de presente morador de Currais da Bahia me deve quatro mil Ries por um conhecimento que segundo minha lembrança está em poder de meu sobrinho Paulo Blanco// declaro que tenho em poder do reverendo Padre João de Pontes trinta mil reis em dinheiro ?? Declaro que possuo uma sorte de terras em a paragem chamada Mohuguassu partindo com os herdeiros dos defuntos meus cunhados a saber Manoel Rodrigues de Arzão e Cornélio Rodrigues de Arzão e nestas terras quero e é minha ultima vontade que se faça e caiba a minha terça de todos os meus bens e a deixo aos Reverendos Padres da Companhia deste Collegio de São Paulo para que as logrem e possuam como suas para o que procurarão os titulos por onde forão dadas no livro do tombo onde as cartas de datas costumam registrar e declaro que estas ditas terras me pertencem por via de Braz Rodrigues de Arzão que Deus haja // .......
Porquanto esta é minha ultima vontade do modo que tenho dito ......e por não saber escrever pedi e roguei ao Tabelião Manoel Cavaco que este por mim fizesse e assinasse.
Data de abertura: 7-2-1702 Joseph Alves Torres assina como procurador do Padre João de Pontes.
 
Em 1693 foi criada a villa de Coritiba (atual Curitiba, PR), com a participação de alguns de nossos antepassados.
"Saibão quantos este publico instromento de poce e levantamento de Pelourinho virem, em como aos quatro dias do mez de Novembro de mil seissentos e sesenta e oyto annos, nesta villa de Nossa Senhora da Lux dos Pinhais, estando o capp.ª-mor Gabriel de Lara nesta dita villa, em presença de mim Tabalião fizerão os moradores desta dita villa requerimento perante elle dizendo todos à huã voz que estavão povoando estes campos de Coritiba em terras e lemites da demarcação do Sr. Marquez de Cascais, e asim lhe requerião como Capp.ª-mór e Procurador bastante do dito Snr. Mandase levantar Pelourinho em seu nome, por convir asim o serviço d´el-Rei e acresentamento do donatario; e visto o requerimento dos moradores ser justo mandou logo levantar Pelourinho com todas as solemnidades necessarias, em paragem e lugar desente nesta Praça, de que mandou paçar este termo por mim Tabalião, onde todos se asignarão com migo Antonio Martins Leme que o escrevi – Gabriel de Lara, Matheus Martins Leme, Gaspar Carrasco dos Reis, Luiz de Góes, Ignocencio Fernandes, André Fernandes dos Reis, Amaro Pereira, Matheus Martins o moço, João Martins Leme, Francisco da Gama Pais, Thomaz de Castanheda, João da Gama, Manoel Cardoso, Domingos Rodrigues da Cunha, Domingos Rodrigues da Cunha, Domingos André, Manoel Martins Leme, Angelo Nunes Machado."


Aos 29 de março de 1693, na Igreja de Nossa Senhora da Lux e Bom Jesus dos Pinhais, foi procedido o ato da criação da justiça da vila de Curitiba, Paraná, realizando-se a escolha de eleitores e a eleição dos membros da Câmara. Assinaram a ata vários moradores de Curitiba, entre eles Frutuoso da Costa (avô 8ª geração). Frutuoso foi camarista (vereador) em 1702.



O sul do Brasil começava a formar seus primeiros núcleos de colonização. E, enquanto alguns portugueses tentavam melhorar de vida no litoral catarinense e paranaense, nosso antepassado Simão Vaz de Àvila (avô 9ª geração) falecia em 1685, na vila de Agualva, Concelho de Praia da Vitória, Ilha Terceira, Arquipélago de Açores. Naquela época era costume enterrar os mortos nas igrejas, nas capelas e demais lugares “santos” por acreditarem que assim estariam mais próximos da salvação. Quanto mais perto do altar, maiores as chances d´alma ser salva e, assim sendo, Simão foi sepultado na 6ª fiaba (fila) dentro da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, em Agualva.

Os primeiros povoados da Província de Santa Catarina foram:

- Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (atual São Francisco do Sul) fundada em 1658, sob a responsabilidade de Manoel Lourenço de Andrade;

- Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) fundada em 1672, sob a responsabilidade de Francisco Dias Velho Monteiro;

- Santo Antônio dos Anjos de Laguna (atual Laguna) fundada em 1684, sob o comando de Domingos de Britto Peixoto.

A fundação de Laguna serviu para dar maior apoio e defesa à Colônia do Sacramento, no Rio Grande do Sul. 

Segundo JASKULSKI,
“Com a fundação do povoado catarinense, os portugueses intensificaram o comércio entre essas duas vilas, fazendo as viagens pelo litoral, pois eram mais seguras que as viagens pelo mar. Graças a esse caminho, os portugueses descobriram a Vacaria do Mar, começando, assim, a sua exploração. Os tropeiros - homens que conduziam a tropa, levando o gado de um lugar para o outro - vinham de Laguna arrebanhar o gado e levar tropas de mulas e de gado vacum para serem vendidos na feira de Sorocaba, em São Paulo. Os donos das minas de Minas Gerais vinham a essa feira comprar o gado da Vacaria do Mar, para alimentar os escravos negros. Já as mulas eram vendidas para o transporte de cargas. Os tropeiros negociavam com os índios pampeanos, que arrebanhavam o gado da Vacaria do Mar. Grandes rebanhos eram trocados por colares, facas, armas, fumo e outros produtos. Os espanhóis também entraram nesse comércio, do qual também participavam os gaudérios. Gaudérios eram homens sem pátria, sem lei e sem família. Vestiam-se como os Charruas, com botas de garrão de potro, chiripá e poncho. Assaltavam estâncias missioneiras e também roubavam o gado da Vacaria do Mar. Eram conhecidos na Vacaria do Mar como chansadores(contrabandistas). Os tropeiros, ao longo de suas viagens, faziam paradas para descanso da tropa e dos homens: eram as invernadas. Nas invernadas havia os currais para o gado. O tropeiro Cristóvão Pereira estabeleceu o caminho das tropas e currais, ao longo do litoral. Em Torres e ao norte do canal de Rio Grande, foram montados postos de cobrança de pedágio do gado, retirado da Vacaria do Mar. Esses postos de pedágio, na época, eram chamados de registros. Essa rota dos tropeiros pelo litoral era muito acidentada, e eles tinham de atravessar muitos rios. Em 1727, foi descoberto outro caminho: era a estrada de Morro dos Conventos, de onde as tropas atingiam facilmente Lages, Curitiba e Sorocaba.”

Assim sendo, em 1727, iniciou-se a abertura da “Estrada dos Conventos” que partia da Colônia do Sacramento e chegava ao litoral de Araranguá, indo até Curitiba, passando por Lages e de lá, até Sorocaba, São Paulo. Mais tarde, em 1732, abriu-se um trecho que partia de Viamão, RS, de onde vieram a maioria dos tropeiros que se estabeleceriam nos “Campos de Lages”. E finalmente, em 1733, concluiu-se uma picada Araranguá-Lages e a primeira tropa de mulas passou rumo as minas de ouro.

“A iniciativa da construção de uma via de comunicação pelo interior provocou desagrado aos comerciantes tanto de Laguna como da Ilha de Santa Catarina pelo prejuízo que tal caminho poderia causar-lhes já que a atividade comercial era exercida exclusivamente através dos portos. (…) Logo após a fundação de Lages, a Câmara da Vila de Laguna determinou a abertura de uma estrada ligando-a ao planalto, acompanhando o curso do rio Tubarão. Esta estrada, com melhorias no seu traçado é a que, hoje, se denomina “estrada do rio do Rastro”. (Fonte: portalsaofrancisco.com.br)
Mais tarde, surgirá também a primeira ligação rodoviária entre São José da Terra Firme, no litoral, com N. Sra. Dos Prazeres das Lagens, na serra, cuja concorrência pública para serviços de abertura do caminho no sertão adentro se fez em 14 de outubro de 1788. No entanto, a picada original foi, ao poucos, sendo abandonada e a construção da estrada adiada. Esta estrada viria a ser a atual BR 282.  
Retornando ao ano de 1738, a Ilha de Santa Catarina começa a ser repovoada, pois tinha sido praticamente abandonada após um ataque pirata em 1687, onde na ocasião foi morto o seu capitão-mor Francisco Dias Velho. Assim sendo, com a chegada do brigadeiro José da Silva Paes, que veio à Ilha com a missão de construir fortificações para proteger o sul do Brasil, a Ilha de Desterro recomeça uma nova etapa de sua história. E, para que esta empreitada houvesse sucesso, Paes solicitou à Coroa Portuguesa que povoasse a região. 
Nesta época, Portugal tinha dois problemas a resolver: 1) o excesso de população nos Arquipélagos dos Açores e de Madeira e 2) a ocupação das terras ao sul do Brasil pelos espanhóis. Sendo assim, resolveram dois problemas com uma única solução: a colonização de Santa Catarina. 


Neste mesmo ano, 1738, D. João V cria, em 11 de agosto, a Província de Santa Catarina desmembrando-a da da Província de São Paulo e passando-a para a jurisdição do Rio de Janeiro, ficando subordinada diretamente aos Vice-Reis do Brasil. 


No período de 1746 a 1756, a colonização portuguesa trouxe do Arquipélago dos Açores e Madeira cerca de 6.000 imigrantes. Os açorianos imigrantes eram descendentes principalmente de portugueses do Algarve, Alentejo, Estremadura e do Minho, mas também de flamengos, bretões, norte-africanos e outros europeus. Inclusive, na época da colonização das ilhas, os portugueses procuraram atrair os chamados cristãos-novos, isto é, os judeus sefarditas que fugiam da Espanha e que foram obrigados a converter-se ao cristianismo. 

Em 07 de agosto de 1747 foi assinado o primeiro contrato de transporte de imigrantes, entre a Corte de Lisboa e Feliciano Velho Oldenberg. Ele deveria trazer inicialmente 1.000 imigrantes ao Brasil. E já, em 1747, ele trouxe até a Ilha de Santa Catarina, 473 pessoas. 
Nessas primeiras levas, somente poderiam participar homens com menos de 40 anos, mulheres com no máximo 30 anos e crianças, pois a intenção era a de formar famílias jovens. Eles embarcaram em várias galeras sob o comando dos capitães Luis Lopes Godelho e Pedro Lopes Arraya, partindo da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, nos dias 6 e 9 de outubro de 1747, chegando na Ilha de Santa Catharina (hoje Florianópolis), em 06 de janeiro de 1748, na localidade de N.Sra. Das Necessidades (hoje Santo Antonio de Lisboa) e, posteriormente, alguns casais, se deslocaram para a Freguesia de N.Sra da Conceição da Lagoa (hoje Lagoa da Conceição). 



Foi provavelmente nesta época que chegou em Desterro, minha heptavó, avó de 7ª geração, Catharina Felicia Santo Ávila, açoriana de Agualva, Ilha Terceira, visto que, em 30 de junho de 1748, às 18 horas, ela já se casava na Igreja de N. Sra. Do Desterro, na Ilha de Santa Catarina, com Sebastião Paulo Coelho (avô 7ª geração), tendo como testemunhas: Manoel Antonio Leite e Matheus Lourenço Denis. 

Para atrair os açorianos ao Brasil, o Governo português prometeu para cada casal um lote, duas vacas e uma égua, além de sementes e ferramentas. Porém, nem tudo foi como imaginado. A maioria recebeu apenas o lote e nenhuma outra ajuda do Governo e assim eles foram se instalando nas vilas já existentes e fundaram outras. Em uma das vilas existentes, a vila de Paranaguá, Paraná (na época pertencente a São Paulo) já moravam os meus octavós (8ª geração) Manuel Alvares Lamin e sua esposa Rosa Pinheiro, pais de Antonio Alvares (Alves) Pinheiro, nascido por volta de 1770. 

Enquanto isso, a necessidade de povoar o interior do estado de Santa Catarina foi surgindo, principalmente para controlar a invasão dos espanhóis. Alguns criadores de gado e tropeiros já começavam a se estabelecer na região, ao longo da Estrada dos Tropeiros. Segundo WERNER, em seu livro "Caminhos da Integração Catarinense", a cada um dia de viagem entre o litoral e a serra, que durava entre 8 a 12 dias, encontrava-se uma localidade para pouso. E foi numa dessas localidades que, por volta de 1766, o Governo português determinou que o Capitão Mor Antônio Correa Pinto de Macedo criasse um povoamento, que foi denominado de Vila de Nossa Senhora dos Prazeres das Lajes (atual Lages). 

Para estimular o povoamento, o governo dava terras (concessão de sesmarias), anulava dívidas (evitando prisão e processos), entre outros benefícios. Talvez por este motivo que meu hexavô Balthazar Gomes de Escobar partiu com sua família de São Paulo em direção a região sul, vindo a morar em Vacaria e Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul.
Em 1783, após a morte de seu fundador, Lages, na serra catarinense, começou a ser abandonada por parte de seus moradores, uns com medo dos ataques indígenas, outros pelo receio de uma invasão espanhola. O segundo Capitão Mor de Lages foi Bento do Amaral Gurgel Annes, nomeado em 1786, mesmo ano que foi aberta a estrada conhecida como Serra do Rio do Rastro. 


O receio das invasões espanholas tinha motivo para existir, pois entre os dias 23 e 25 de fevereiro de 1777, nossos antepassados que viviam em Desterro, Ilha de Santa Catarina passaram por momentos difíceis. Apesar dos quatro fortes que a Ilha tinha, nada impediu que os espanhóis a invadissem. Eles desembarcaram em Canasvieiras com uma frota de 116 navios e facilmente obtiveram o domínio da Ilha até julho de 1778, quando a Espanha restituiu a Ilha de Santa Catarina ao domínio português. 


Uma prova do domínio espanhol na Ilha, é a certidão de batismo de Ana, irmã de minha hexavó Polucena Rosa de Jesus (avó 6ª geração), escrita em espanhol:
Em diez y nueve dias del mes de mayo de mil setecientos sesenta y sete anõs, en esta Parroquial Iglecia de Nuessa Sª della Comcpcion de Alagoa, Isla de Sta. Cathalina, o bispado de Buenos Aires, batize y puse los santos olios, a Ana hija leguitima de Fran.co. Antonio, nat.l dela Isla, y de Joaquina Roza, nat.l desta Isla de Sta. Cathalina, fueron su Padrinos Juan Perez da Silva, y Ana Maria, todos feugrecia desta freguecia de Alagoa, y para que constar lo firmo como Cura q. soy de dicha Parroquial nel mesmo día, mes y ano. Ut supra Dn.Juan Ordonez
Na ocasião, os portugueses não puderam enfrentar os espanhóis que eram em maior número. Houve pânico e os militares, assim como os moradores de Desterro, trataram de se refugiar no continente e muitos destes, nunca mais retornaram à Ilha, como deve ter acontecido com as famílias de meus antepassados: meu octavô Vital Silveira e meu heptavô Antonio Francisco das Candeias que se estabeleceram, após esta data, em Laguna. 

Virgílio Várzea narra a vergonhosa rendição das tropas portuguesas:
"Em poucas horas então todo o exército (lusitano), que montava a três mil homens (infantaria, cavalaria e artilharia), passou o Estreito, na direção de São José, em desastrosa corrida. O povo do Desterro, como o dos lugares em volta, sentindo-se abandonado e inerme, lançou-se igualmente, em êxodo tumultuoso, no coice dos fugitivos. Era um espetáculo desolador: senhoras e crianças correndo, aos gritos e como loucas, pelas estradas e atalhos, presas de um pânico terrivel”.
Enquanto a Ilha sofria sob domínio espanhol, meu hexavô (avô 6ª geração) Miguel Coelho de Ávila partia da Enseada dos Ganchos (atual Governador Celso Ramos), onde morava com seus pais, para se casar em Vila da Faxina, São Paulo, com Josefa Maria de Lima. O casamento foi realizado dia 14 de fevereiro de 1779 pelo vigário Bento Gonçalves Jordão. 


O irmão de Miguel, Domingos Coelho D´Avila, em 07 de março de 1788, solicitou terras ao Governo, no lugar do rio Tijucas Grande. O motivo era porque ele morava na sua porção de 50 braças herdada do pai, Sebastião Paulo Coelho (avô de 7ª geração) e estas terras já estavam “cansadas” e não eram suficientes para cultivar e sustentar a família dele. Após verificação se as terras solicitadas eram devolutas, lhe foi concedido, pelo Vice-Rei e Capitão General de Mar e Terra do Brasil, Luiz de Vasconcelos e Souza, 600 braças na localidade de Canelinha.

Já no outro lado do oceano, nascia em 1786, em Helmstedt, na Baixa Saxônia, Alemanha, meu pentavô Johann Christophs Matthias Seeliger. De respeitável família burguesa, negociadores de vinho e fabricantes de cerveja e aguardante, Johann casou-se em ano anterior a 1807 e teve pelo menos dois filhos: Wilhelm Friedrich e Johanne Dorothea Amalie Antoniette Seeliger (avó 4ª geração) que viria a ser a mãe de meu trisavô Alfred Beims.

E por aqui, em 21 de fevereiro de 1789, casavam-se, na Vila de Santo Antônio dos Anjos (atual Laguna, SC), meus heptavós Manuel Inácio da Silveira com Francisca Inácia Viana. E no ano seguinte, 1790, na mesma Igreja contraíam núpcias, em 08 de janeiro, Antônio Alvares Pinheiro e Januária Francisca (avós 7ª geração). Os filhos deles, Joaquina Rosa e José Alves Pinheiro, se casariam anos mais tarde nesta mesma igreja.

Casamento José Alves Pinheiro e Joaquina Rosa
Ao final do século XVIII a vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba começa a ser desmembrada fazendo surgir as vilas de Itapeva da Faxina (1769), Nossa Senhora dos Prazeres de Itapetininga (1770) e Santo Antonio das Minas de Apiahy (1771). 

A vila de Itapetininga surgiu próximo de onde os tropeiros que vinham do sul faziam o “pouso”, às margens do Rio Itapetininga, distante 12 léguas de Sorocaba, que correspondia a um dia de viagem, onde o gado era comercializado. A criação da Paróquia remonta a 06 de novembro de 1771, onde casaram-se em 09 de julho de 1797, na Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, meus pentavós João Enriques de Oliveira e Ana do Rosário Leme. 
Em 30 de fevereiro de 1797, o governo de Portugal decreta uma proibição aos degredados que não podem mais estabelecer-se na Ilha de Santa Catarina, tendo em vista a excelência do clima no local. A maioria dos degredados que foram enviados à Ilha de Santa Catarina eram punidos por ações de furto e roubo. Mas também vieram os acusados de homicídios, falsificação e adultério. A participação em quadrilha geralmente resultava em pena perpétua de exílio na Ilha, como foi o caso relatado por LESSA em seu artigo “A Ilha de Santa Catarina no Sistema de Degrado do Império Português (1770-1810)”:

“A mesma severidade é encontrada no caso de Manuel Pereira Piedade, 29 anos, que foi parar na Ilha de Santa Catarina para cumprir degredo perpétuo “por culpa de furtos e ser sócio de uma quadrilha de ladrões” em 1797, após ter sua sentença original para as Galés da Angola comutada. Manuel foi acompanhado da esposa, Rita Maria, de 27 anos, ré no mesmo processo por receptação dos furtos de seu marido e igualmente condenada por toda a vida9 . Neste caso, o degredo perpétuo parece ter sido motivado pela recorrência dos furtos em que o casal esteve envolvido, inclusive com outros parceiros em seus delitos. A condenação de Maria Rita, de receptação de furto, embora não tão frequente quanto o furto, também é bastante recorrente nas sentenças que trouxeram condenados do Reino para a fronteira meridional." (p.5)

Era 03 de janeiro do ano de 1806 quando os moradores da Freguesia da Lapa, Paraná, assinaram uma procuração para que o Coronel José Vaz de Carvalho os representasse em São Paulo a fim de solicitar ao responsável do Governo a elevação da Freguesia de Sto. Antonio da Lapa para Villa da Lapa. Entre os representantes da Freguesia estava meu tataravô (avô 4ª geração) Bernardo Gomes de Campos. Em 06 de junho de 1806, a freguesia de Santo Antonio da Lapa foi elevada à vila com o nome de Vila Nova do Príncipe. 



No mesmo ano que chega ao Brasil a família real portuguesa, 1808, fugindo do ataque napoleônico em Lisboa, nasce no acampamento de Santa Maria, Rio Grande do Sul, minha tataravó Catharina Ribeiro de Andrade, filha de Antonio Rodrigues de Andrade e Victoriana Maria de Jesus (avós de 5ª geração).

Em 02 de outubro de 1814 casam-se na Igreja de Irsch Beurig, distrito de Saarburg, Alemanha, meus pentavós (5ª geração) Mathias Palm e Maria Philippi.

No ano seguinte, 1815, consta no Münstersches Intelligenzblatt, que meu antepassado Joseph Westarp (7ª geração de avô), declarou o seguinte sobre Fritz, ou seja, seu filho e meu hexavô Friederich Ludwig Westarp:
“ich fordere meinen Sohn Fritz hiemit auf, sich sofort bei seiner Behörde zu stellen, und seine Landwehrpflicht zu genügen, um mich von der Strafe zu befreien, die mich seines Ungehorsams halber bedrohet” Joseph Westarp in Ottmarsbocholt (pag.850)
Tradução: “Peço ao meu filho Fritz que vá imediatamente à sua corte e cumpra seu dever militar, para me l libertar da punição que me ameaça por sua desobediência” Joseph Westarp em Ottmarsbocholt (pag.850)

Em 1820, com a abertura da estrada do Rio do Rastro, Lages se emancipa da Capitania de São Paulo e passa a fazer parte da Capitania de Santa Catarina.

Consta em registros que entre 1817 e 1820, um filho de Ignácio Antunes Lima levou até Sorocaba 70 mulas avaliadas em 20 mil réis cada uma. Ignácio era filho de meu heptavô Lourenço Antunes de Lima, mulato livre, que nasceu em Mariana, Minas Gerais e vivia com sua esposa Felippa Neris Correa, natural de Paranapanema, São Paulo, na Vila de Itapeva da Faxina, SP. Em Itapeva da Faxina a família possuía, de acordo com um recenseamento de 1777, uma fazenda de criar éguas, possuindo 40 potros, e plantações de milho e feijão. As éguas eram negociadas em Lages, onde o filho Ignácio comprou a fazenda do Aleixo, na Coxilha Rica.
Já a filha Josepha Maria de Lima, minha hexavó, acabou casando-se com o tropeiro Miguel Coelho de Ávila, que nasceu na vila de São Miguel da Terra Firme (atual Biguaçu, SC) e fazia a rota Santa Catarina – São Paulo. O casal teve um filho, nascido da vila de Itapeva da Faxina, SP, chamado José Coelho de Ávila que viria a ser meu pentavô. Ele casou, em 1818, com Maria dos Santos e fixou residência na Vila de N. Sra. dos Prazeres das Lajes (atual Lages, SC).
Registro casamento José Coelho e Maria dos Santos


Segundo o Mapa Indexado dos Bens Rústicos da vila de Lages, elaborado pelo Sargento Mor Baltazar Joaquim de Oliveira, José Coelho de Ávila adquiriu um sítio denominado Índios do Capitão Manuel Cavalheiro Leitão. A propriedade era constituída de paiol, roça e mais terras cultiváveis, num total 3.600 alqueires paulistas, ou seja, 87.120.000 m2 de terras. Na época José pagou a quantia de 131$200 (cento e trinta um mil e duzentos réis). Suas terras tinham de frente uma légua sesmaria (6.600 m.) e de fundo duas léguas e confrontavam-se com as terras de Bento dos Santos, seu sogro e meu hexavô, e por outro lado com Francisco de Alvarenga Monteiro, cuja chácara se chamava Bahia. No sítio Índios, José criava animais e tinha plantações diversas.
Consta em uma escritura pública (1º Ofício de Lages, Lº de notas nº 6, fls. 67-v a 68), que o Sargento Mor Miguel Pedroso Leite, por meio de seu procurador e filho, Capitão Manuel Cavalheiro Leitão, vendeu uns campos, que consistiam em paiol, roça e mais terras lavradias, que ficava no caminho que da vila de Lages ia para Santa Catarina, ao meu avô de 6ª geração Bento dos Santos Pereira (o qual assinou por meio de uma cruz) pela quantia de 131$200. Os vendedores mostraram ter posse segura dos campos, havidos por título de sesmaria e auto de posse, assim como uma escritura que o Guarda Mor Bernardino da Costa Filgueira passou a ele vendedor. 


Os Campos dos Indios tem essa denominação porque em tempos antigos, vieram de aldeias de São Paulo, alguns índios com o intuito de plantarem e fornecerem mantimentos às tropas que ali passavam, porém o projeto não deu certo, eles foram recolhidos às suas aldeias e os campos ficaram em poder da Real Fazenda até que decidissem a quem pertenceriam os ditos campos. 



Assim como alguns tropeiros fixaram residência em Lages, outros passaram por ali e casaram-se com moças da região, como é o caso de uma das filhas de meu tataravô Bernardo Gomes de Campos, Antônia, que contraiu matrimônio com o conhecido Manoel Capitão, morador de Vacaria, RS. Já a esposa de Bernardo, Maria Rosa Ferreira, era de uma família de Palmeira, localidade a 100km de Curitiba, Paraná, que era um importante pouso de tropeiros. 

Segundo a genealogista Ismênia Schneider, no seu blog Genealogia SerranaSC:

“Todos esses laços de parentescos que se vai descobrindo entre os descendentes das mais antigas estirpes serranas, confirma uma “velha” constatação dos genealogistas da região: as famílias eram poucas, distribuídas em grandes latifúndios de criação de gado. A comunicação era difícil pela ausência de estradas e pelo terreno montanhoso. A única “vila” existente na região era Lages. A conseqüência lógica é que os casamentos aconteciam em decorrência de encontros fortuitos, ou por arranjo familiar entre os jovens de uma mesma linhagem, ou entre filhos de famílias vizinhas e / ou amigas."
Meu tataravô Bernardo Gomes de Campos era Alferes  da Coroa Portuguesa, a primeira patente de oficial do Exército Brasileiro (hoje seria segundo-tenente). Seu nome consta no inventário de Prudêncio Antônio da Silva, natural de Sorocaba - SP, falecido em 15/01/1859, inventariado em 1875. Naquela época, os homens de negócios, que estavam sempre em viagens, determinavam diversos testamenteiros de acordo com o provável local da morte. Portanto, se Prudêncio falecesse em Curitiba, Bernardo seria um dos testamenteiros e esse fato nos faz crer que nosso antepassado morou ou tinha afazeres em Curitiba, Paraná. Foram designados como testamenteiros:

“seu irmão Antônio José de Barros, Cândido Xavier de Barros e João Soares de Barros, todos moradores, em 1812, em “Cima da Serra”, isto é, São Francisco de Paula; em Curitiba, designou ao mesmo Cândido Xavier de Barros, Policarpo José de Oliveira e Alferes Bernardo Gomes de Campos; finalmente, em Sorocaba, ao Capitão Domingos Inácio de Araújo, Tenente-Coronel Bento Gonçalves de Oliveira e José Manuel de Oliveira” (Fonte: Genetropsorocaba.pdf)

Era 07 de setembro de 1822 quando o Brasil declarou sua independência de Portugal e, no ano seguinte, a cidade de Desterro tornou-se capital da Província de Santa Catarina, recebendo diversos investimentos e recursos do governo federal para a melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras obras urbanas.

Enquanto por aqui a cidade via o progresso, o mesmo não acontecia na Alemanha, onde as cidades se recuperavam dos estragos feitos pela guerra napoleônica e a situação dos camponeses, em particular na Prússia, era extremamente instável. Em meio a este caos, nascia em 20 de janeiro de 1822, na região de Rheinland Pfalz (Renânia Palatinato), meu tataravô Peter Joseph Werner, filho de Johann Peter Werner e Anna Elisabetha Fuhrmann. Anos mais tarde, ele partiria para o Brasil junto com seu pai e a madrasta, Anna Geisen. 

Já em 14 de fevereiro de 1825, se casavam, em Ottmarsbocholt, Westphalia (na época pertencente ao Reino da Prússia) o casal de lavradores que viriam a ser meus pentavós Friederich Ludwig Westharp e Maria Gertrudis Baumeister. 

Nesta época, o êxito rural foi muito agravante por conta da redução do trabalho braçal e da divisão de terras devido a nova legislação sobre a herança. Tanto que a cidade de Berlim duplicou sua população no periodo de 1815 a 1850. Porém, mesmo com esta crise, o casal Friederich e Maria Gertrudis tiveram 3 filhos. Um deles, o filho mais jovem, meu tataravô, Christian Friederich Westharp decidiu partir para o Brasil em 1861, motivado pela possibilidade de se tornar proprietário de terras e, ao mesmo tempo, fugir da proletarização, da fome e das pequenas guerras e revoluções que ocorriam na Alemanha. 

Com a abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808, que permitia a imigração de não-portugueses, o governo começou a incentivar a imigração estrangeira para ocupar as áreas vazias no interior do estado de Santa Catarina, instituindo uma classe de pequenos proprietários rurais que ainda não existia no Brasil.
Segundo JOCHEM,

“ Para reforçar a colonização e viabilizar a ocupação de vazios demográficos, em setembro de 1828, Monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros, Imperial Inspetor da Colonização Estrangeira, teve autorização para receber no porto do Rio de Janeiro o navio alemão "Johanna Jakobs", que trazia, da Europa, centenas de imigrantes para o Brasil. Eles são convenientemente desembarcados e alojados na Armação de São Domingos, no Rio de Janeiro, até o final do mês subseqüente.(...) Do Rio de Janeiro foram despachados em 28 de outubro de 1828, pelo Monsenhor Malheiros, a bordo dos veleiros "Luiza" (um brigue) e "Marquês de Viana" (um bergantim), com destino a Desterro (hoje Florianópolis), sul do Brasil, onde aportaram, respectivamente, em 07 e 12 de novembro de 1828. O brigue "Luiza" transportou 276 pessoas e o bergantim "Marquês de Viana", 359 pessoas. Após a chegada ao Desterro, os que foram transportados pelo bergantim "Marquês de Viana" ficaram alojados nos quartéis da capital catarinense (campo de manejo), juntos aos Batalhões 8º, 18º, 27º e 4º de artilharia, enquanto os que vieram no brigue "Luiza", por haverem adoecido durante a viagem, foram "hospedados", involuntariamente, "livre de comunicação", e completamente isolados na praia da Lagoinha -- antigo estabelecimento de pesca de baleias fundado na costa oriental da Ilha de Santa Catarina. Lá, também, estava aquartelado o 14º Batalhão do Exército. Neste estabelecimento os imigrantes foram amparados, no que tange à assistência médica, por conta do governo provincial. Completamente isolados e em plena ociosidade, requereram, naquela localidade, terras para cultivar e de cuja solicitação não obtiveram resposta.”

Dos nossos antepassados, a família Werner veio no bergantim Marquês de Viana, enquanto a família Palm, no brigue Luiza. A viagem dos Werner começou no porto fluvial de Trier, de onde navegaram até Koblenz e, depois, Reno abaixo. Alguns trechos fizeram por terra até chegar ao Porto de Bremem, de onde embarcaram no veleiro Johanna Jakobs com outras 140 famílias. 

Em 11 de fevereiro de 1829, enquanto era sepultado na Alemanha meu pentavô Hans Joachim Adolph Koth, o primeiro grupo de imigrantes, os do Marquês de Viana, eram transportados para a freguesia de São José onde ficaram alojados até julho, quando então foram encaminhados para a localidade de São Pedro de Alcântara, instalando a primeira colônia européia em Santa Catarina. Entre os imigrantes estava a família de Johann Peter Werner, meu avô de 5ª geração.

Já os imigrantes que chegaram no Luiza foram aos poucos, durante o ano de 1829, sendo encaminhados para a nova colônia. Algumas famílias, cerca de 14, resolveram se estabelecer em Desterro e arredores, mas os que foram para a colônia receberam suas terras, todas com frente para a estrada que conduziria à freguesia de N. Sra. Dos Prazeres das Lajes, a atual BR 282. A picada foi aberta em 1787 pelo Alferes Antonio José da Costa e foi trilhada até 1800 quando, por abandono, foi totalmente fechada. Com a chegada dos imigrantes, entre eles, meu pentavô Mathias Palm, a estrada foi reaberta.
A família de Mathias Palm tomou posse do seu lote de 100x800 braças, em 22/07/1829. O lote de número 09 ficava ao lado norte da estrada. 
Nossos antepassados tiveram que enfrentar várias dificultades, pois as promessas feitas pelo Governo, já naquela época, não eram cumpridas. Somente as terras gratuitas e as madeiras para construção das casas foram fornecidas, mas no que diz respeito as ferramentas, diárias, sementes, nada lhes foi dado. Diante deste contexto e com terras pouco férteis, os colonos de São Pedro de Alcântara começaram a migrar, como foi o caso dos Werner e dos Palm que, anos mais tarde, foram para a região atual de Brusque e de Gaspar, respectivamente.


Meu pentavô Mathias Palm e seu filho mais velho, Pedro Palm, eram donos de terras em Pedras Grandes, em ambas as margens do rio Itajaí Mirim, embora nunca tenham residido ali. As terras de Mathias, na margem esquerda, foram transferidas para seu genro, meu tataravô Pedro José Werner, antes da fundação da Colônia de Gaspar, enquanto que as terras de seu filho, na margem direita, foram transferidas para Paul Kellner.

O ano era provavelmente 1831 quando a escola de música de Helmstedt publica o seguinte anúncio: “no dia 25 de setembro, sob a orientação do Sr. Beims, ou seja meu tataravô August Louis Beims, os alunos das classes altas deram um Concert School no auditório local, cuja renda deu um pequeno superávit para a aquisição de parte da música. Desejamos que o amor à música entre nossos alunos se tornasse cada vez mais ativo para que possam fazer ensaios públicos ainda mais agradáveis de seu próprio progresso” (tradução Google translator).

Em 1835, dois europeus que habitavam em Desterro (atual Florianópolis), Carlo Demaria (italiano) e Henrique Schutel (suíço) fundaram a empresa de colonização Demaria & Schutel que, em 1836, trouxe os primeiros imigrantes italianos. Foram 186 sardos (oriundos da Sardenha) que fundaram a primeira colônia italiana em Santa Catarina, a colônia Nova Itália (atual São João Batista).

Neste mesmo ano, 1836, nasciam na Itália, na província de Cremona, Lombardia, aqueles que viriam a ser meus tataravós: Giovanni Costantino Buzzi, em Casalmorano, aos 21 de janeiro e Pazienza Fioni, em Olmeneta, aos 01 de novembro, sem imaginarem que alguns anos mais tarde, ambos também viriam fazer parte da colonização italiana no Brasil.

Por aqui, em 1835, inicia-se a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul. E, em 1839, após anos de luta, as tropas chegam na cidade de Laguna, SC. As tropas do Governo da República Farroupilha liderada por Canabarro e que contou com a ajuda do italiano Giuseppe Garibaldi, tomava e decretava a cidade de Laguna como a capital da República Juliana. Uma época movimentada que meu tataravô Henrique Pinheiro Alves vivenciou juntamente com seus pais, Manoel Alvares Pinheiro e Joaquina Maria de Macena, quando provavelmente tiveram suas casas invadidas e seus bens alimentícios confiscados por Canabarro e sua tropa.

Em 1850 era fundada por um particular, o sr. Hermann Blumenau, a colônia São Paulo (atual Blumenau). Os primeiros 17 imigrantes eram quase todos artesãos (carpinteiro, marceneiro, ferreiro), só dois eram lavradores. Porém, dr. Blumenau, após 10 anos dirigindo esta colônia, a vendeu ao Governo Imperial e retornou para a Alemanha, indo morar no ducado de Braunschweig.

Esses primeiros colonos vindos com Dr. Blumenau se reuniam aos domingos para cantar, representar e praticar o tiro ao alvo, resultando, em 21 de dezembro de 1859, na criação da Sociedade dos Atiradores de Blumenau.

Inauguração da Schützengesellshaft Blumenau - Fonte: site Angelina Wittmann
Um ano após a fundação de Blumenau, em 05 de fevereiro de 1851, às 12:00 horas, na Matriz N. Sra. da Piedade, em Tubarão, SC, contraiam núpcias meus tataravós Henriquez Joze Pinheiro e Polucenia Maria da Conceição, tendo como testemunhas: Antonio Antunes e Filisbino Joze Jaques Vanzuit (provavelmente parente da noiva).



Já em 29 de dezembro de 1854 eram meus tataravós, por parte paterna, Pedro José Werner e Catharina Palm que se casavam em São Pedro de Alcântara, na época pertencente a Freguesia de São José, SC. Após o matrimônio fixaram residência na Colônia Itajahy (atual Brusque), onde a terra era mais fértil e teriam mais oportunidades.

No periodo de 1855/1856, José Coelho de Ávila, filho de meu pentavô José Coelho de Ávila, trabalhava como empreiteiro na abertura e construção da atual BR-282, antigo caminho entre São José e Lages que desde 1788 os governos estavam tentando implantar. Segundo relatório ao Presidente da Província, o Capitão de Engenheiros João de Souza Mello descreve que “(…) tendo José Coelho d´Ávila realizado a fatura das Estradas das Restingas, de Lages, desde o Rio Canoas até o do Bom Retiro, segundo contratou em 14 do mês de setembro de 1855, cumpre-me levar ao conhecimento de V. Excia, que do exame e medição que procedi naquele service, achei montar a 9304 braças a extensão da estrada consertada, por o dito Coelho d´Avila na forma das condições do respective contracto e cuja extensão de estrada a razão de quatro contos de réis por légua de três mil braças, conforme foi ajustado, importa na quantia de doze contos quatrocentos e cinco mil e duzentos e trinta réis.” (p.113, Caminhos da Integração Catarinense).


Neste mesmo periodo, em 10 de março de 1856, falecia em Helmstedt, Alemanha, aos 49 anos, minha tataravó Johanne Dorothea Amalie Antoniette Seeliger Beims. Faleceu em uma Alemanha pobre, que tinha se tornado um aglomerado de estados medievais e condados, sem muitos vínculos de união e com desigualdades sociais. 
A partir de 1860, a população germânica, assim como a italiana, começou a emigrar em grande número, visto que as condições econômicas estavam cada vez piores. Começaram a chegar ao Brasil, os primeiros grandes grupos de imigrantes alemães e italianos para consolidar as colônias de Santa Catarina. Entre eles, meu trisavô Alfred Beims, que tinha perdido a mãe alguns anos antes. Alfred, com 19 anos, embarcou no navio Franklin, 3ª classe, juntamente com seu irmão Theodor, 14 anos, em 21 de junho de 1860, no porto de Hamburgo, Alemanha. Eles eram de Helmstedt, Braunschweig, Alemanha e Alfred tinha como profissão segeiro, ou seja, produzia e consertava carroças e carruagens.
O navio chegou ao porto de São Francisco do Sul, em 14 de setembro de 1860 e os imigrantes que nele vieram tinham como destino à colônia Dona Francisca (atual Joinville), porém Alfred e seu irmão não permaneceram nesta localidade pois já tinham parentes na colônia de Blumenau, entre eles sua irmã Johanna Beims Von Gilsa, casada com o Capitão Viktor Von Gilsa. Tanto que os Beims não constam da lista de entrada do Dr. Blumenau pois não chegaram na Colônia pelo caminho usual que se dava através da subida do rio Itajaí-Açu, mas fizeram a estrada de Brusque provavelmente junto com seu parente Friederich Wilhelm Seeliger que retornava de uma viagem à Alemanha.
Na chegada dos primeiros imigrantes alemães no local denominado Vicente Só, à margem direita do rio Itajai, em frente ao local destinado a sede da Colônia de Itajahy, já havia a presença de outros imigrantes, como meu tataravô Pedro José Werner. Ele possuia neste local uma casa, um engenho de farinha de mandioca e uma serraria. Foi ele e sua família que receberam e acolheram estes novos colonos. Segundo relatório do 1º Diretor da Colônia, Baron Von Schneeberg, “Pedro Werner os agasalhou com o melhor recebimento no seu espaçoso engenho de farinha até a demarcação de seus lotes coloniais”.
Pedro José Werner, conhecido como Pedro Miúdo, tornou-se um homem ativo na comunidade, sendo um incentivador dos imigrantes que se deparavam com as primeiras dificuldades.
Segundo GOULART, 

“Pedro José Werner já era proprietário de grandes áreas de terras, requeridas que foram ao Departamento de Terras Públicas da Província, e de outras adquiridas de Francisco Salentien, já então comerciante na barra do rio Itajaí, que tinha sido seu vizinho. Não foi Pedro José o único pioneiro; vários outros possuíam terras nas proximidades, inclusive seu sogro e cunhados. Mas o verdadeiro pioneiro, apesar de não possuir terras, foi Vicente de Mello, conhecido por Vicente Só, que morou no local em que Pedro Werner construiu suas benfeitorias. Foi com aquele senhor de cor parda que Pedro José aprendeu a dominar melhor o português e a habilidade para a vida na selva, assim como lidar com os índios, dos quais se tornou amigo.”
Meu trisavô Pedro, seus pais Catharina Palm e Pedro Werner, sua irmã Maria e seu irmão Nicolau


Em 10 de agosto de 1860, na colônia de Steinbach, Blumenau/SC, nascia meu trisavô Henrique Koth, filho de Heinrich Koth e Maria Beselin, imigrantes de Mecklenburg, Prússia (atual Alemanha).
Em 12 de junho de 1862, em Guabiruba, colônia de Brusque, SC, casavam-se sob as bençãos do vigário Alberto Gattone, em sua residência, e dispensados dos proclamas por causa urgente, os meus tataravós Christovão Friederico Westarp e Anna Maria Augusta Pietsch. Como testemunhas do enlace: Francisco Alexandro Pietsch e Nicolau Deschamps. O casal teve onze filhos, porém nem todos sobreviveram devido as precárias condições da Colônia. Entre os viventes estavam as filhas Maria e Elisabeth, ambas foram casadas com meu trisavô Pedro Werner, filho de um dos fundadores da colônia de Brusque, Pedro José Werner.
Em 1865 foi construída a primeira capela da colônia de Brusque. Feita de madeira, possuía 28 bancos além de um sino de aproximadamente 225 quilos que foi fabricado na Alemanha sob encomenda de meu tataravô Pedro José Werner e de Pedro Jacob Heil. A padroeira da capela era Nossa Senhora do Socorro.

Certidão de óbito de Eva Beims


No mesmo ano, em Blumenau, meu trisavô Alfred Beims compra um terreno situado na rua principal,
entre Blumenau e Altona, e constrói uma casa onde
iria morar com sua esposa, Eva Philipps, até a sua
morte em27 de dezembro de 1916.
Sua esposa Eva faleceu em 13 de agosto de 1920. 





Indo pras bandas da serra catarinense, em 21 de abril de 1868, é realizado na casa do meu tataravô, o Capitão Ignácio Coelho de Ávila, o casamento de sua filha Ana Antônia com Lucas Gomes de Campos. Tiveram como testemunhas: o tenente coronel Manoel Rodrigues de Souza e Francisco da Silva Ramos. No ano seguinte 1869, nasce o primogênito do casal, meu trisavô Bernardo, que foi batizado em 06 de junho de 1870, na Igreja Matriz de Lages, SC, tendo como padrinhos: Ignácio Coelho de Ávila e José Antunes Lima.

Em 1871, a Alemanha e a Prússia proibem a publicidade a favor da emigração para o Brasil. O decreto foi revogado somente em 1896, mas com ressalvas. Somente poderiam emigrar para os três estados do sul do Brasil. No entanto, a colonização alemã já se apresentava consolidada em nosso estado. Em 1870, “após vinte anos de sua fundação Blumenau contava com 6000 pessoas, tinha um parque industrial com 92 fábricas diversas, possuia 27 mil cabeças de gado em suas pastagens, era cortada por 30 quilômetros de estradas e caminhos e já conseguia exportar 130 contos anuais”. (Fonte: Wikipedia – História de Blumenau)

Foi neste contexto, em 1872, que meu trisavô Alfred Beims compra ações, a 500 réis cada, para ajudar na ampliação do prédio da Sociedade dos Atiradores e Grupo Teatral. Ele fazia parte do corpo cênico da Sociedade Teatral, cuja última apresentação da dita Sociedade Teatral Frohsinn, na Sociedade dos Atiradores, foi dia 16 de fevereiro de 1895 com a comédia "O Último". Depois deste espetáculo, a parte artística se separou da Sociedade dos Atiradores, formando uma sociedade dos cantores e uma sociedade teatral. 

Pretendendo continuar seu projeto de colonização, o Império do Brasil, em 1874, firma contrato com Joaquim Caetano Pinto Júnior para trazer da Europa cerca de 100.000 imigrantes em 10 anos. Ele deveria trazer imigrantes da Alemanha, Austría, Suiça, norte da Itália, Bélgica, Dinamarca e França; deveriam ser agricultores, sadios, laboriosos e moralizados, nunca menores de 2 anos e nem maiores de 45, salvo se fossem chefes de família.

O Governo concederia gratuitamente aos imigrantes hospedagem e alimentação durante os primeiros oito dias de sua chegada, e transporte até as colônias do Estado a que se destinassem. Daria um terreno a preço justo e, em contrapartida o imigrante viria espontaneamente, sem compromisso e contrato algum, para trabalhar como agricultor na sua própria terra ou exercer alguma atividade nas cidades e vilas. Sabendo que nenhuma reclamação poderia ser feita ao Governo, conforme cláusula contratual, meu tataravô Giovanni Buzzi decidiu partir para um novo mundo e uma nova vida. 

Deixa sua terra natal em 1876 para estabelecer-se, junto com sua esposa e filhos, na localidade denominada São Paulo (atual Ascurra, SC).

De acordo com o Léo Laps,
“Santa Catarina recebeu no século XIX levas de imigrantes — principalmente alemães e italianos — que foram simplesmente aportados no litoral do estado e, dali em diante, tiveram que fundar suas colônias sem qualquer apoio do Estado brasileiro. O contato com outras etnias, principalmente no Vale do Itajaí e nordeste do estado (onde estão Joinville e Blumenau, por exemplo), era praticamente nulo. Assim, não havia como esses primeiros imigrantes tornarem-se culturalmente brasileiros. Para gerirem suas comunidades, esses imigrantes utilizavam o modelo que conheciam da Europa. O resultado foi a formação de núcleos de etnias e tradições exclusivamente europeus nessas colônias. Antes da Segunda Guerra, por exemplo, só se falava alemão ou italiano na região. As escolas adotavam livros que vinham direto da Europa; as igrejas ministravam o luteranismo evangélico (entre os alemães) ou o catolicismo (entre os italianos); jornais noticiavam em língua estrangeira — na década de 30, um terço dos periódicos no Brasil era escrito em alemão. No Rio Grande do Sul, a forte tradição gaúcha absorveu melhor esses imigrantes. Mas Santa Catarina ainda não tinha uma identidade formada além do litoral, já desenvolvida pelos imigrantes açorianos.”
Além de todos estes aspectos, os imigrantes italianos que chegaram ao Brasil não tinham, como os portugueses, uma consciência nacional. Eles próprios não se entendiam, pois antes da unificação da Itália, em 1871, cada região falava o seu próprio dialeto. Aqui no Brasil acabaram por formar um dialeto italiano, chamado Talian, que é baseado no modo de falar da região vêneta misturando os dialetos vênetos e lombardos e a lingua portuguesa.

A Itália unificada passava por uma série de problemas sócio-econômicos que motivaram o grande fenômeno migratório iniciado em 1875. Quando o Governo Italiano começou a se perguntar porque tantos italianos estavam partindo, obteve a resposta de um imigrante que sintetiza bem a situação vivida por nossos antepassados.
Cosa intende per nazione, signor Ministro? Una massa di infelici? Piantiamo grano ma non mangiamo pane bianco. Coltiviamo la vite, ma non beviamo il vino. Alleviamo animali, ma non mangiamo carne. Ciò nonostante voi ci consigliate di non abbandonare la nostra Patria. Ma è una Patria la terra dove non si riesce a vivere del proprio lavoro? 

Desembarcando em Itajaí-Açu, os imigrantes italianos atingiam a colônia de Blumenau. As mulheres e crianças aguardavam em Blumenau, nos barcos destinados aos imigrantes, enquanto os homens partiam para o interior para receber os lotes que lhe estavam destinados. Este foi o caso de meu tataravô Giovanni Costantino Buzzi que chegou em 1876 e recebeu o lote n. 5, na então Colônia São Paulo (atual Ascurra). Mais tarde ele comprou o lote n. 1A.


Giovanni Buzzi

Com 40 anos de idade, Giovanni Buzzi deixara Trigolo, província de Cremona, região da Lombardia, na Itália, para vir ao Brasil, em busca de condições de vida mais favoráveis, com a promessa que por aqui seria proprietário de sua terra e não mais um administrador de propriedade rural (fattore di cascina) como era sua função na Itália.
Partiu do porto de Genova, juntamente com sua esposa Pazienza Fioni e seus filhos Ferdinando (18 anos), Baptista (15 anos), Emilio (12 anos), Clotilde (10 anos), Tranquillo (8 anos) e Ultimo (3 anos).

Da Colônia Blumenau a família foi de carroça até Warnow (Indaial) e de lá foram a pé por uma picada pela margem do Rio Itajaí Açu até a Colônia São Paulo (Ascurra). 

Dizem que Giovanni era um homem elegante, de regular cultura e muito experiente como dirigente, tanto que logo foi incumbido pelo Dr. Blumenau como líder da sua comunidade. Pela sua competência e eficiência, e por ser o homem de confiança do dr. Blumenau e do governo, Giovanni foi logo nomeado Inspetor de Quarteirão, a mais alta autoridade nas linhas coloniais. 

Em Ascurra, o primeiro engenho de açúcar, movimentado a boi, foi construído por Giovanni.

Em 1878, dois anos depois da chegada da família Buzzi em Ascurra, partia do porto de Gênova, o vapor Colombo trazendo mais italianos do norte da Itália, mais precisamente das províncias de Bergamo, Cremona, Mantova, Treviso, Verona e Vicenza. 

Entre os passageiros estava a família Tessarolo, composta de meu pentavô Paolo Tessarolo com 61 anos, sua esposa Chiara Berti com 58 anos, o filho Giovanni Tessarollo de 32 anos com sua esposa Elisabetta Ballestrini  de 28 anos e seus 5 filhos: Angelo, com 10 anos; Chiara, com 8 anos; Teresa, com 4 anos; Marietta, com 4 anos; Paola, com 2 anos e o pequeno Raimondo de apenas 3 meses. Eles moravam na localidade chamada Rosà, na província de Vicenza, Itália e chegando em Santa Catarina, receberam os lotes n. 24 e 70 na Colônia São Paulo ( atual Ascurra).

De profissão carpinteiro, meu tataravô Giovanni Tessarolo conseguiu dar a sua família uma vida melhor daquela que haviam em terras italianas. As filhas Chiara e Marietta se casaram com os filhos de Giovanni Buzzi, Emílio e Tranquillo respectivamente. Marietta e Tranquillo são meus trisavós.

Entre os italianos era costume, ao se construir uma igreja, que houvesse uma votação para escolher o nome do santo padroeiro. Porém, em Ascurra isso não aconteceu. Giovanni determinou que o santo padroeiro seria Santo Ambrósio (padroeiro da Igreja de Casalmorano, cidade natal de Giovanni), ao invés de Santo Antônio como desejava a maioria dos colonos. Os imigrantes acabaram aceitando, pois Giovanni tinha trazido um quadro artístico com a imagem do santo e um belo crucifixo que foram colocados no altar da capelinha.

Mais tarde, em 1878, Giovanni construiu uma nova capela próxima a sua residência, denominada Capela Sagrada Família. Nesta época, o catolicismo fervoroso fez com que os italianos entrassem em confronto com os franciscanos que vieram do Tirol (região sob jurisdição da Áustria e inimiga histórica do reino italiano). Os frades assumiram a Capela Madonna Adorata, em Rodeio, distante 4 km. A rivalidade levou a uma “guerra” de construções sacras: os franciscanos ergueram um templo dedicado a São Francisco de Assis, em Rodeio, enquanto os italianos de Ascurra construíram uma capela dedicada a Santo Antônio.

Neste mesmo ano, 1878, chega à Ascurra o Pe. José Maria Jacobs, que iria dar assistência religiosa aos moradores de Ascurra e região e que se tornou grande amigo da família Buzzi.



Casa da família Buzzi construída em 1886, em Ascurra, por Giovanni Buzzi com a ajuda dos filhos Ferdinando, Batista, Emilio e Tranquillo e mais cinco colonos amigos. Na época era considerada uma verdadeira mansão. Hoje é patrimônio do IPHAN.

O Brasil proclama sua República em 1889 e começa uma nova fase de sua história. Neste período, a Igreja se separou do Estado e os registros civis se tornaram obrigatórios. 

Em Ascurra, o Pe. Jacobs não respeitava as novas leis e realizava os casamentos sem o registro civil, gerando inimizades políticas. Em 23 de novembro de 1891, ele realizou o casamento de Henrique Baader e Dorothea Alpen, em Blumenau, e este evento foi o motivo que seus inimigos políticos precisavam para solicitar a sua prisão. 

Como seus inimigos não tinham a coragem de prendê-lo, sua prisão demorou a ser feita, até que em fevereiro de 1892 ele se refugiou na casa de meu tataravô Giovanni Buzzi  durante 17 dias. Giovanni mantinha um grupo de agricultores em vigilia para evitar a prisão do padre, que acabou ocorrendo em 01 de março de 1892, na casa dos Buzzi, onde o padre estava foragido.

Em setembro de 1881, houve uma grande enchente em Blumenau, SC, e o senhor Fritz Müller, em seu diário, relatou que no dia 25 de setembro: “os moradores da cidade se refugiaram, com o auxílio do vapor, nas igrejas Católica e Evangélica. As casas de Karl Rüdiger e Ludwig Weise tombaram. As de Grewsmühl e Rabe, como as de Asseburg, ameaçam ruir. Do peneder o sapateiro Grasser teve várias cabeças de gado, cavalos e porcos que morreram afogados. Todas as casas, com exceção das de Alfred Beims, Hosang e Baucke, também de Graßmann, estão debaixo d´água. A olaria de Bugmann está demolida. Limpeza do moinho”. 

Já em 1889, inicia-se a construção do novo Schützenhaus (clube de atiradores), onde meu trisavô Alfred Beims fazia parte da comissão responsável pela obra. 

Um ano antes, em 1888, depois de uma série de leis graduais como a Lei Eusébio de Queirós de 1850, a Lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei dos Sexagenários de 1885, a princesa imperial Isabel assina a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, abolindo definitivamente a escravidão no Brasil e os negros finalmente conseguiam, aos poucos, a tão sonhada liberdade.

Porém, nem todos os escravagistas aceitaram a ideia, como por exemplo meu trisavô Joaquim Coelho de Ávila. Consta em autos da Villa de Lages/SC, que em 1888 o escravo Ciriaco ganhou em 1ª estância do seu senhor Joaquim Coelho de Ávila a Manutenção da sua liberdade. Isso seu deu pelo fato de que nesta época houve a reescravização, onde os senhores se baseavam no seu direito de propriedade e não aceitavam o direito de liberdade dos seus escravos. Assim sendo, os libertos em risco de perder a sua liberdade entravam com ações, servindo-se das prerrogativas da Lei para mover processos judiciais contra seus senhores, para adquirir ou manter sua liberdade.

Liberdade esta que os antepassados de Joaquim conseguiram provavelmente por exercerem a profissão de tropeiro. Segundo o artigo PARDOS LIVRES E TROPEIROS, o autor explica que:
“Sabe-se que era difícil para um coronel, fazendeiro e criador de animais terem em sua comitiva algum escravo. Para viagens longas existiam dificuldades para controlar e prender cativos escravos. Além de cuidar do rebanho o patrão teria que cuidar dos escravos para que não fugissem. Assim, na maioria dos casos conhecidos, o tropeiro negro ou mestiço tinha que ser livre e “companheiro”. É uma minoria, sabe-se, mas muitos destes alforriados ganhavam vida própria e poderiam se tornar independentes, comerciantes e proprietários de patrimônio substancial. (…) Entre os exemplos vários que surgiram durante o inventário genealógico do povo brasileiro, destaca-se aqui o casal Lourenço Antunes Lima e Felippa Neris Corrêa. Em vários documentos aparecem como sendo “pardos livres” ou “forros”. Tinham propriedade onde criavam animais cavalares e plantavam milho e feijão na região de Itapeva, SP. Combinando-se outras informações, verifica-se que pelo menos até a 4ª geração seus descendentes também eram Tropeiros que faziam a rota sulina até a região sorocabana. Aliás, é bom que se diga, que uma maneira de ascensão social deste segmento da população brasileira dos séculos XVIII e XIX era justamente ter a profissão de Tropeiro.”
Muitos escravos, depois de libertos, assumiam o sobrenome dos seus antigos proprietários, como exemplo temos este registro de casamento de Manoel e Francelina, ele, ex-escravo de meu trisavô Lucas Gomes de Campos.
"Aos vinte e cinco dias do mês de janeiro do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus de 1887 nesta Matriz de Lages em minha presença e das testemunhas nomeadas: Roberto Guilherme Vanford Cozay solteiro e Nicolau Cassuly receberam-se em matrimonio: Manoel Gomes de Campos de idade 40 annos ex-escravo de Lucas Gomes de Campos, filho de (em branco) com Francelina Maria Pereira, filha de Manoel do Amaral e sua mulher Maria Justina do Amaral, libertos; ambos são naturaes e baptizados n´esta Parochia de Lages, donde são freguezes. Para constar mandei fazer este assento. Vº. Antonio Luiz Esteves de Carvalho"
O pai de Lucas, Bernardo Gomes de Campos (avô de 4ª geração), também possuía vários escravos. Foram encontrados alguns registros de seus escravos: 

- Nascimento de Serafim, batizado em 19 de janeiro de 1846, filho de Benedito, já falecido, e Joaquina, escrava do Capitão Bernardo Gomes.
- Óbito de seu escravo João Binguella, de 40 anos, falecido em 06 de julho de 1851.
- Óbito em 1855,na casa da viúva de Bernardo Gomes de Campos, do pequeno indígena Raimundo, de cerca de 2 anos. Neste caso, não sabemos se seus pais eram tratados como cativos ou não. 
- Óbito em 19 de fevereiro de 1856 do recém-nascido Antonio, filho de Anna, escrava de dona Maria Roza Ferreira, viúva de Bernardo. 

Meu pentavô José Coelho de Ávila também tinha escravos; pois em 18 de junho de 1859 faleceu sua escrava Caetana, de problemas no parto. E no artigo “Nem anjos, nem demônios: apenas homens (Lages, 1840-1870) de Nilsen Borges, ele conta o seguinte caso que envolve nosso antepassado:
“Outro caso que chama atenção foi o desaparecimento do preto liberto Reginaldo, camarada de José D'Avila. De acordo com o processo, reaberto em julho de 1852, as testemunhas afirmaram que era de conhecimento público que Reginaldo fora assassinado por D'Avila e por um outro camarada, chamado José Riosca. O crime teria acontecido quando D'Avila soube que Reginaldo pretendia ir embora. Tentando impedir que isso acontecesse, mandou seu camarada Riosca atrás de Reginaldo alegando que este não poderia ir, pois era seu escravo. Podemos considerar duas situações neste caso. Primeiro, que Reginaldo considerando-se liberto, ainda devia cumprir algumas condições impostas em sua carta alforria. Segundo, que, sendo Reginaldo livre ou liberto, estava do mesmo jeito sob o julgo de D’Avila, que não queria abrir mão dele. Segundo Paulo Pinheiro Machado, o homem livre pobre, fosse ele descendente de africano, indígenas, mestiço e até mesmo português, e que desempenhava funções como peão de estância ou agregado, estava preso ao poder dos grandes fazendeiros por uma série de obrigações, sendo uma característica do século XIX, de que a maior parte da força de trabalho era fixa, nascia e morria sob os mesmos patrões.”(p.8)
Foi também em 1888, em 07 de março, que foi assinado o Decreto Lei n. 9886 que regulamentava o Registro civil dos nascimentos, casamentos e óbitos. Quem não cumprisse as regras estabelecidas, pagaria multas diversas; e foi o que aconteceu com meu bisavô Luiz Koth que registrou seus filhos com atraso e pagou a multa mínima. Por exemplo, ele registrou minha avó Helena Koth, nascida em 1920, apenas em 1928.

Em 25 de junho de 1889, nascia em Indaial, SC, meu bisavô Ludwig Koth, filho de Henrique Koth e Maria Schulze. A família Koth morava na localidade Warnow, hoje um bairro de Indaial.

No período de 1890 a 1910 houveram vários processos de regularização de terras na cidade de Lages. No processo em nome de minha tataravó Ignez Antonia de Menezes, realizado em outubro de 1909, conforme consta no Arquivo Público de Santa Catarina, a extensão de suas terras era de 2001 a 3000 hectares, plantava milho, feijão, fumo, cereais e outros legumes e tinha criação de gado vacum, cavalos, muares e suínos.

Em 4 de fevereiro de 1890, o Conselho de Intendência de Lages, aprovou os artigos de lei que criavam a obrigação do registro das “marcas” destinadas a assinalar a propriedade do gado. Os fazendeiros, mesmo sem uma obrigação legal, já marcavam o gado desde tempos remotos, quando os campos não eram divididos e o gado se misturava com os da vizinhança. Um exemplo é o registro público da marca de gado feito, em 1593, por nosso antepassado Gaspar Vaz (avô 11ª geração) na vila de São Paulo. Além da marca, seu gado tinha a parte de traz da orelha direita fendida.

Contudo, o primeiro livro de “Registro de Marcas” de Lages, teve seu primeiro registro em 10 de fevereiro de 1890, com a marca de Ignácio Alves de Chaves. Minha tataravó, Ignez Antonia de Menezes  também fez seu registro.


Neste mesmo ano, 1890, casavam-se aos 17 de fevereiro, na Igreja Matriz de Tubarão, SC, meus trisavós Generozo João da Silva e Cândida Polucena Alves. O casal, após 7 anos de matrimonio, teve que enfrentar a maior enchente da região, ocorrida em setembro de 1897. 

Entre maio de 1898 e fevereiro de 1900, minha tataravó Catharina Palm Werner, conhecida também como Nima, já viúva, se transfere para Lages com todos os seus filhos e respectivas famílias, estabelecendo-se no distrito de Índios. 

Inicia-se um novo século e enquanto meu trisavô Lucas Gomes de Campos falece em Lages, em 14 de novembro, nasce em Tubarão, aos 02 de dezembro de 1900, meu bisavô Antônio Generoso Brigido, que mais tarde adotou o nome de Antônio Pinheiro Sobrinho.

Bernardo Gomes de Campos
Era 01 de julho de 1902, quando meu bisavô Bernardo Gomes de Campos  compareceu ao Distrito de Paz da cidade de Lages, SC, para informar que no dia anterior, 30 de junho, lá pelas 08 horas da manhã, sua esposa Júlia tinha dado à luz a dois natimortos, ambos do sexo feminino.

Bernardo era casado com Júlia Coelho de Oliveira, filha de Joaquim Coelho de Avila e Júlia Henriques de Oliveira,  desde 23 de novembro de 1898 e com ela teve 9 filhos.




Em 08 de janeiro de 1905, depois de anos em prol da comunidade que ajudou a fundar, meu tataravô Giovanni Buzzi falece em sua residência, no Ribeirão São Paulo, Ascurra. Já sua esposa, Pazienza Fioni, faleceu em em 28 de setembro de 1927, aos 90 anos. Tanto ele como sua esposa estão sepultados no cemitério situado aos fundos da atual imponente Igreja Sagrada Família, cuja capela inicial foi construída por ele em 1878.

O objetivo de Giovanni e Pazienza em dar uma vida melhor aos filhos deu certo. A maioria de seus filhos estudaram e se tornaram pessoas importantes na comunidade, como por exemplo, José Buzzi, o primeiro prefeito de Ascurra e meu trisavô Tranquilo Buzzi, que se formou em Direito e além de advogar, possuía uma serraria, engenho de açúcar e farinha, além de terras na região da Subida, em Rodeio, onde plantava milho e criava gado. Porém sua filha e minha bisavó Palmira não herdou nenhum bem de seu pai, pois naquela época a mulher não fazia parte da partilha.

Antonio Pinheiro Sobrinho
Segundo relatos, meu bisavô Antônio Pinheiro Sobrinho trabalhou na estrada de ferro Dona Thereza Christina, que foi construída em 1884 e servia, principalmente para transportar o carvão até o porto. Em 1906, a sede da ferrovia, estabelecida em Imbituba foi transferida para Tubarão. E em 1917 inicia-se o trabalho de construção do ramal férreo Tubarão-Araranguá.


Já o trecho da estrada de ferro Santa Catarina, que ligaria Blumenau até a estação de Hansa (atual Ibirama) foi inaugurada em 1909, com a presença de meu tataravô José Werner.


Idealizadores e construtores da Estrada de Ferro de Santa Catarina, no início do século 20.
Outros eventos históricos importantes presenciados por meus antepassados foram as guerras mundiais.


Antes de iniciar a primeira guerra, em 14 de maio de 1913, na Igreja São Francisco de Assis, em Rodeio, SC, casavam-se meus bisavós Ludwig Koth, com 24 anos, e Palmyra Buzzi , com 19 anos, tendo como padrinhos: Henrich Schanfelberger e Marco Luciano Quintino. Segundo relatos, Luiz exercia a profissão de madeireiro e possuía terras na região onde é a atual Rua XV de Novembro, em Rio do Sul/SC.


Casamento Max Beims e Izabel Werner
Em julho de 1914 tem início, na Europa, a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), mas em terras brasileiras aconteciam momentos de alegria neste período, com o nascimento da minha avó paterna Natalícia Gomes de Campos, em 14 de dezembro de 1914; o casamento de meus bisavós Max Carlos Guilherme Beims e Elisabeth (Izabel) Werner, em 21 de junho de 1916; e o nascimento de meu avô paterno Max Pedro Beims em 16 de março de 1917, todos os eventos ocorridos em Lages, SC.



A família de meu bisavô Luiz Koth morava na localidade conhecida como Subida, em Apiúna, próxima a Lontras, SC. Era um sertão que em épocas passadas foi domínio dos índios botocudos. Segundo relatos, a esposa de Luiz, minha bisavó Palmira Buzzi quando assava pães para a família, colocava alguns deles na janela para que os índios pudessem pegar. Era uma forma de convivência pacífica com eles, após tantas lutas e desentendimentos. 

E não era somente na região do vale do Itajaí que existiam problemas de relacionamentos com os indígenas, mas também no planalto a questão era delicada. Conforme descrito na dissertação de Juçara Castello Branco, os alemães chegaram em Lages num período de conflito da comunidade com os índios. Em 1929, Lages já contava com uma população de 50.000 habitantes, sendo que entre estes haviam 200 alemães. Ainda de acordo com seu texto:
“Eles ingressaram em Lages quando aquela sociedade vivenciava uma relação de conflitos com as populações indígenas, Xokleng e Kaigang, além das tensões sociais entre os muitos pobres que ali viviam como peões e agregados e os poucos ricos fazendeiros. Além destes conflitos, estes indivíduos vivenciaram ainda outros. Eles possuíam modos de ver o mundo e de executar suas práticas cotidianas e religiosas de maneira diferente da população lageana. (...) Até 1942, ano em que o Brasil entrou na Guerra, filhos, netos e bisnetos de alemães que viviam em Lages se identificavam como alemães, independentemente de terem nascido no Brasil. O Padre Andréas Wiggers, bisneto de alemães, recorda que, entre seus familiares, o casamento com pessoas que não fossem de origem alemã não era bem visto porque, segundo ele, não faziam parte da mesma estirpe, ou seja, não partilhavam da mesma identidade etno-cultural”.
Aos poucos esta barreira etno-cultural foi sendo banida, como exemplo, temos os casamentos realizados na família Beims. Meu avô Max Beims se casou com Natalícia Gomes de Campos, sua irmã Mêda Beims casou-se com João Guimarães Silva e Wanda Beims uniu-se a família de Manoel Teixeira de Oliveira Jr. 

“Neste mesmo período, casas com a frente do telhado abatido, no estilo de chalet germânico, passaram a fazer parte da paisagem lageana, segundo Victor Peluso. (...) Licurgo Costa recorda que no inicio do século XX: Os imigrantes mais abastados, passados cinco ou seis meses após terem se instalado na cidade, construíam retirados da cidade, em chácaras, casas de madeira pintadas de azul parecidas com aquelas que se vê às margens do Rio Reno. Ele também recorda sobre dois destes alemães, que chegaram em Lages no começo do século e estabeleceram a construção de residências no estilo das construções do seu país natal: Nicolau Wemer e seu irmão Pedro Wemer que vieram da Alemanha aproximadamente em 1910 ou 1915. Eram católicos. Nicolau Wemer morava perto do rio Ponte Grande [atual Conta Dinheiro]. Foi o primeiro fabricante de cerveja de Lages. Pedro Wemer: tinha uma casa muito bonita em estilo alemão e pintada de azul, chegando nos índios. Também tinha uma olaria e uma marcenaria. Seus descendentes continuam no mesmo ramo de negócios ainda hoje”. (CASTELLO BRANCO, 2001)
Meu trisavô Pedro Werner faleceu nesta casa, em 08 de agosto de 1923, com 60 anos de idade. 

Em 01 de setembro de 1920 foi realizado um Recenseamento referente aos proprietários de estabelecimentos rurais no Estado de Santa Catarina, onde constam os meus seguintes antepassados:
- Pedro José Werner – Localidade: Fazenda da Chapada, Lages, SC 
- Bernardo Gomes de Campos - Localidade: Tributo, Lages, SC 
- Joaquim Coelho d´Avila – Localidade: Tributo, Lages, SC 
- Maria Koth – Localidade: Estrada Geral, Blumenau, SC 
- Tranquillo Buzzi - Localidade: Estrada Geral, Blumenau, SC 

Em primeiro de março de 1930, às 09:00 boras, compareceu no Forum de Tubarão, SC, sito à rua Coronel Collaço para votar para Presidente, Vice-Presidente e renovação de 1/3 dos Senado Federal e Deputados Federais, meu bisavô Antonio Pinheiro Sobrinho. Seu nome constava na Ata sob. Número 14.

De acordo com a Constituição de 1891, o direito de voto era dado a todos os homens com mais de 21 anos, que não fossem analfabetos; religiososos e militares. Nesta época o voto não era secreto e existia influência dos poderosos da região. Isso se confirma nas eleições realizadas em Tubarão, onde na Ata consta que votaram 398 eleitores e 102 não compareceram. E, coincidentemente, os candidatos eleitos receberam 398 votos cada um: 

Presidente: Júlio Prestes de Albuquerque 
Vice-Presidente: Vital Henrique Baptista Soares 
Senador: Coronel Antonio Pereira da Silva e Oliveira 
Deputados Federais: doutor Edmundo da Luz Pinto, doutor Fulvio Coriolano Aducci, doutor Walmor Argemiro Ribeiro Branco.

Em 09 de agosto do mesmo ano, meu bisavô Antônio Pinheiro Sobrinho retorna novamente ao Forum para votar para um novo Senador Federal. Na ocasião foi eleito o doutor Adolpho Konder com a unanimidade dos 410 votos retirados da urna.

Apesar de Júlio Prestes vencer em 17 dos 20 estados brasileiros, acabou por não assumir a Presidência. Seus rivais criaram a Aliança Liberal que iniciou a Revolução de 1930. O movimento iniciou-se no Rio Grande do Sul e o estado de Santa Catarina foi o primeiro a ser invadido pelas tropas revolucionárias que levaram o meu primo Getúlio Vargas ao poder da nação (sua hexavó, Isabel de Anhaya, era irmã de minha eneavó Anna Correa). As cidades de Porto União, Lages, Joinville, Blumenau, Anitápolis, Florianópolis,Tubarão e Araranguá vivenciaram de perto a passagem das tropas rumo ao Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, assim como meus antepassados que viviam nestas localidades. 

Além da preocupação com os efeitos da Revolução, a família de minha trisavó Anna Coelho Gomes teve momentos de tristeza com seu falecimento em 28 de junho de 1930, em Lages, SC. 

Um ano antes de iniciar a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os meus avós paternos se casavam: Max Pedro Beims e Natalícia Gomes de Campos. A cerimônia, realizada em 06 de setembro de 1938, foi na residência do tio da noiva, Ignácio Gomes de Campos, em Lages, SC, às 16:00 horas, tendo como padrinhos Laurentino da Costa Valente e João Lourenço Coelho. Infelizmente o pai da noiva, Bernardo Gomes de Campos, não estava presente pois havia falecido alguns meses antes, em 22 de julho. 



O casal Bubi e Talícia, como eram conhecidos, tiveram 3 filhos: Curt Antônio, Sérgio Rogério e Maria Aparecida 


Felicidades para uns, preocupações para outros. No início da guerra, o Governo brasileiro estava de acordo com as ideias nazi-fascistas porém a situação se inverteu sob a pressão dos EUA. O presidente Getúlio Vargas rompeu relações com a Alemanha e a Itália e as colônias estrangeiras passaram a sofrer represálias do Governo Brasileiro. Foram aprovados os decretos-leis n. 383 e 403, que obrigou o fechamento de jornais, revistas e escolas de línguas estrangeiras, além da proibição de falar línguas estrangeiras em público.

Como descreve Léo Laps, em artigo no site a novademocracia.com.br:
“o partido nazista estava instalado em Blumenau, com sucursais em outras colônias periféricas, desde 1929. Porém, nem todos nessas colônias nutriam simpatias por Hitler, Mussolini e a causa fascista. Havia muitas adesões, mas também uma ligação emocional com a Alemanha e a Itália que ultrapassava motivos políticos. Os nazistas tinham se aproveitado do isolamento dessas comunidades para infiltrar sua ideologia nas populações imigrantes. Escolas, igrejas, associações e clubes de caça e tiro passavam a cartilha da "raça superior" e do triunfo da Alemanha sobre os demais povos. A região fazia parte dos planos do Lebensraum (literalmente, "espaço vital") de Hitler, e seria a Alemanha Antártida do Terceiro Reich.”
Blumenau, nos anos de 1930, tinha 70% da população de alemães e seus descendentes e, destes, somente 10% falavam português; 30% compreendiam o português, mas não se consideravam brasileiros e o restante só compreendia a lingua alemã. Quando o Brasil entra efetivamente na Guerra, as perseguições aumentam e as prisões começam a acontecer simplesmente pelo fato de alguém falar o alemão. Imaginem o silêncio que era Blumenau naquela época!

Esse fato pôde ser testemunhado pela minha avó materna Helena Koth, que na época morava em Blumenau e trabalhava no comércio. Minha avó sempre contava que durante este período era a vendedora que mais lucrava, pois aqueles que só sabiam falar alemão, ficavam olhando pra ela da vitrine até que ela fizesse sinal que podiam entrar. E, nos fundos da loja, a baixa voz, correndo os riscos de uma punição, ela os atendia na língua alemã. 

Por conta deste decreto, também os nomes das ruas tiveram que ser alterados pois não poderiam ter palavras em alemão. Como exemplo temos a primeira rua aberta em Blumenau, em 1852, a Rua das Palmeiras, que em 1883 passou a ser denominada Alameda Dr.Blumenau. Como Blumenau é um nome alemão, em 1939, a rua passou a ser chamada de Alameda Duque de Caxias.

Minha avó também nos contava que um de seus parentes foi encaminhado para o campo de concentração, onde não sofreu torturas, mas fez trabalho forçado. Na época existiam diversos campos de concentração, sendo que os principais criados em Santa Catarina foram: um na Penitenciária Agrícola da Trindade, em Florianópolis (atual UFSC) e outro no Presídio Político Oscar Schneider, em Joinville (atual cemitério).

Em 1945 termina a Segunda Guerra Mundial, mas para minha avó materna Helena Koth o ano termina mais triste. Seu pai, meu bisavô, Luiz Koth  falece em 30 de dezembro, em Rio do Sul, SC, vitima de tétano.

O período de guerra pode ter afetado também as finanças de nossos antepassados, pois na edição de 08 de março de 1947 do jornal Correio Lageano, constava o seguinte anúncio: “VENDE-SE um terreno de 10.000m2, situado em “Conta Dinheiro”, próximo ao calçamento da estrada federal. Tratar com Max Beims.” 


Neste mesmo ano, um outro anúncio foi publicado, provavelmente em um jornal alemão pois no lado oposto do recorte o texto está escrito em alemão, aonde meus avós informam o nascimento de meu pai, Sérgio Rogério Beims . 





Já minha mãe, Marina Pinheiro (22), nasceu em 17 de abril de 1950 em Rio do Sul, SC, porém foi registrada somente em 1955, quando seus pais se mudaram para Lages, ficando assim registrada como sendo natural de Lages, SC. 

Meu avô materno, Mário Pinheiro trabalhava, em Rio do Sul, em uma fábrica de madeira quando foi convidado pelos irmãos Claudio e Nilton Idalésio para ajudar na implantação de uma fábrica de resserados em Lages/SC. Trabalhou na Sociedade de Resserados Catarinense - SOREC até que a empresa sofreu um grande incêndio e faliu. 
Como indenização, Mário recebeu uma serraria em São José do Serrito/SC. Lá conheceu o mineiro Pedro Matias que lhe faz a proposta de iniciar uma sociedade em Belo Horizonte/MG. Em Minas Gerais, Mário abre a Caixotes Pinheiro, em Contagem/MG, onde se dedicou até ficar doente. 

Meus pais, Sérgio Rogério Beims e Marina Pinheiro se conheceram no dia 31 de outubro de 1965, durante uma sessão de cinema no teatro Marajoara em Lages.  

Em 1960 foi inaugurada a Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Assim sendo, meu pai Sérgio presta o vestibular tanto para a Universidade de Florianópolis, SC como para o de Curitiba, PR, mediante promessa feita à Nossa Senhora de Guadalupe. Se fosse aprovado, seu primeiro filho ou filha, teria o nome de Guadalupe. (no caso, fui eu que paguei a promessa!)

O relacionamento de Sérgio e Marina estava indo bem quando tiveram que enfrentar uma separação temporária, visto que Sérgio partiu, em 1967, para Florianópolis onde foi cursar a faculdade de Engenharia Civil e Marina partiu, em 1968, com sua família para Belo Horizonte, Minas Gerais. E foi nesta cidade mineira, na Igreja N. Sra. da Conceição, que em 03 de maio de 1969, eles se casaram. 

Neste mesmo ano, 1969, Sérgio perde sua avó paterna com quem morou por um período quando era ainda criança. Elisabeth Werner Beims  falece, em Lages, aos 04 de janeiro. Mas a vida é um ciclo de nascimentos e mortes; e ao chegar a primavera, Sérgio recebe sua primogênita, que nasce em 28 de setembro e recebe o nome, conforme a promessa feita, de Marina Guadalupe.

Após formado, meu pai Sérgio trabalhou durante dez anos no Departamento de Estradas e Rodagem - DER/SC onde exerceu vários cargos: Diretor de Construção, Diretor de Pesquisas e Diretor de Estudos e Projetos. Foi também professor na Escola Técnica Federal de Santa Catarina. E em 1983, ano em que faleceu, estava exercendo o cargo de Secretário Adjunto de Transportes e Obras do Estado de Santa Catarina.

No dia 16 de agosto de 1983, Sérgio chegou mais cedo em casa pois não se sentia muito bem. Naquela noite dormiu mal e pediu, logo ao acordar, para Marina, sua esposa, levá-lo ao médico. Chegando ao hospital, Sérgio já foi internado e dois dias depois os médicos descobriram que ele estava com pancreatite aguda. Seu organismo não reagia mais aos medicamentos e, no dia 22, ele entrou em estado de coma. Sem apresentar melhoras, no dia 24 de agosto (dia do seu aniversário), o Governo do Estado de Santa Catarina resolveu trazer uma junta médica de São Paulo para avaliar o seu caso. Foi aconselhada a transferência dele para a capital paulista. 

Em São Paulo, ficou internado no Hospital Sirio Libânes com o quadro inalterado, até que no dia 27 de agosto sofreu um derrame cerebral e não apresentava mais nenhum sinal de vida, sobrevivendo apenas pelos aparelhos. 

No dia 28 de agosto de 1983, os médicos desligaram os aparelhos, vindo a falecer às 11 horas e 15 minutos.

Seu corpo foi transladado para Florianópolis e seu enterro ocorreu em 29 de agosto, às 16:00 horas, no Cemitério do Itacorubi, onde recebeu as últimas homenagens de amigos, conhecidos e familiares.

Após sua morte recebeu várias homenagens:
- Rodovia Eng. Sérgio Rogério Beims - SC 457 que liga a BR 116 a Campo Belo do Sul/SC.
- Ponte Eng. Sérgio Rogério Beims - Rio Caraha - Lages/SC
- Rua Eng. Sérgio Rogério Beims - bairro Santa Mônica - Florianópolis/SC

Sérgio e Marina tiveram quatro filhas, três netos e três netas, e por enquanto, três bisnetos. Nossa árvore cresce, sólida sobre as raízes daqueles que já se foram e dando novos frutos geração após geração. 

Meus antepassados vivenciaram momentos tristes e alegres, guerras e conquistas, fome e abundância, separações e encontros, amor e ódio. Mas eu sou fruto de todas estas emoções e experiências. Gratidão pela minha família!














































3 comentários:

  1. Parabéns, Marina Guadalupe. Que belo trabalho! Que pesquisa magnífica. Um grande abraço de tua prima distante
    Clara Alice

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    1. Obrigada, Clara. Fico contente que tenhas gostado. Um abraço

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  2. Lá no alto diz-se que não se sabe quando quando o JOÃO RAMALHO terá chegado ao BRASIL e aventam-se várias hipóteses mas todas depois de 1500 mas acontece que está mais que comprovado que houve no mínimo uma viagem do DUARTE PACHECO PEREIRA ou de outro português antes 8 ou 9 anos Antes da Chegada á actual República Dominicana do CRISTÓBAL CÓLON também chamado CRISTÓVÃO COLOMBO, viagem essa que levou á negociação do TRATADO de TORDESILHAS para substituir o TRATADO DE ALCÁÇOVAS...... pois o nosso Rei D. João II já tinha um forte conhecimento sobre a extensão do BRASIL antes da negociação do TRATADO de TORDESILHAS e também essa negociação só pode acontecer porque 7 anos antes o CRISTÓBAL CÓLON foi enviado para ESPANHA como espião para enganar os REIS CATÓLICOS Fernando e Isabel e oferecendo-se para descobrir o caminho para a Índia pelo OCIDENTE ..

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